Carga Imediata em Mandíbulas Edêntulas: Uma Visão Moderna
Exploramos o conceito de carga imediata, uma técnica inovadora que promete restaurar a funcionalidade e o conforto dos pacientes de maneira imediata após a colocação de implantes.
A reabilitação de mandíbulas sem dentes tem sido realizada com sucesso através da aplicação de implantes dentários e um leque de próteses, seja elas removíveis pelo próprio paciente ou profissional da saúde, ou ainda fixadas permanentemente com adesivos especiais. A técnica convencional de implantação dentária, que se desenvolve em duas etapas principais, inclui um período dedicado à cicatrização sem tensão seguido de uma intervenção cirúrgica para desvelar o implante, sendo esta abordagem amplamente reconhecida e validada.
Em situações onde se opta por esta abordagem bifásica, com a imediata sutura da gengiva após a inserção do implante, próteses temporárias ajustadas são utilizadas para garantir a funcionalidade oral durante um período prolongado de mais de seis meses. Entretanto, o período inicial após a inserção do implante pode trazer desconforto e limitações para o paciente, afetando suas atividades cotidianas ao longo de todo o processo de osseointegração. Para atenuar esses incômodos e limitações, surgiram alternativas de tratamento que permitem a instalação imediata de próteses apoiadas por implantes. O critério para a adoção dessa prática inovadora é ajustado às necessidades do paciente, buscando oferecer uma melhoria imediata em sua funcionalidade pós-operatória. As evidências mostram que a eficácia desta abordagem imediata é comparável à do método tradicional dividido em duas fases.
Os profissionais de odontologia baseiam-se em dados científicos sólidos para decidir sobre a reabilitação imediata de pacientes com mandíbulas sem dentes, evidenciando que esta modalidade é tão eficaz quanto as técnicas convencionais aplicadas mais tarde. A prática de carregar os implantes imediatamente após sua inserção tem fundamento em robusta documentação científica.
Relatos iniciais sobre a carga imediata em implantes mandibulares mencionam o uso de implantes adicionais ou de maior custo, que eram ativados com próteses temporárias fixas logo no ato cirúrgico, com bons resultados de integração. Adotando procedimentos semelhantes, observou-se falhas em uma pequena proporção de implantes, especialmente aqueles posicionados nas regiões mais posteriores da mandíbula e de menor comprimento. Outras experiências com a carga imediata alcançaram altos índices de sucesso, empregando uma estratégia que distribui a força de carga de maneira uniforme entre os implantes, através de uma estabilização cruzada imediata após sua colocação.
Com o objetivo de encurtar o tempo total de tratamento, a prótese definitiva pode ser disponibilizada imediatamente ou nos dias seguintes à cirurgia. Utilizaram-se três implantes na região anterior da mandíbula associados a uma prótese híbrida parafusada, alcançando-se elevadas taxas de sucesso. Outra estratégia incluiu a utilização de uma barra pré-fabricada e a colocação da dentadura definitiva no dia da operação ou até uma semana após, simplificando e agilizando o processo de reabilitação.
A tabela referida sumariza estudos fundamentais sobre a aplicação de carga imediata em implantes mandibulares, evidenciando que o procedimento é considerado confiável e já superou a fase experimental. Analisando os resultados de 240 mandíbulas com mais de 1.277 implantes, observa-se um apoio unânime à prática da restauração mandibular imediata. As taxas de sucesso desses casos variam de 84,7% a 100%, o que atesta a viabilidade da carga imediata em mandíbulas desdentadas como uma opção de tratamento eficaz. Os poucos casos de menor sucesso tiveram suas razões de falha bem elucidadas, sendo em sua maioria atribuídas a fatores como o uso de implantes de comprimento reduzido na região posterior da mandíbula, hábitos de bruxismo, adaptação inadequada da prótese, técnica cirúrgica deficiente ou infecção.
Uma análise detalhada destes estudos identificou critérios específicos consistentemente relacionados ao sucesso do tratamento, incluindo:
Uma densidade óssea satisfatória na região anterior da mandíbula, exigindo um torque de inserção dos implantes superior a 20 Newton-centímetros (N-Cm), sendo não raro a recomendação de valores acima de 30 N-Cm.
A estabilização cruzada dos implantes, seja por meio de uma barra metálica resistente ou utilização de resina, para garantir a distribuição uniforme das forças.
A seleção de implantes rosqueados com no mínimo 10 mm de comprimento, para assegurar uma ancoragem adequada no osso.
A preservação de espaço interoclusal suficiente para a elaboração tanto da estrutura quanto da prótese temporária, garantindo o ajuste e a funcionalidade adequados.
A cooperação e cumprimento, por parte do paciente, das orientações de higiene e cuidados pós-operatórios, essenciais para a manutenção e sucesso do implante.
Quando esses cinco critérios são atendidos, a expectativa é de um resultado positivo, desde que todos os demais aspectos técnicos do procedimento de implantação sejam executados de forma correta e precisa.
Assim, diante do profissional de saúde bucal se apresenta uma decisão importante: optar pela instalação de uma prótese temporária logo após a inserção do implante, visando a confecção da prótese final após o período de osseointegração dos implantes, ou escolher a aplicação da prótese definitiva já no momento da colocação do implante. Existe uma tabela que detalha e compara esses dois métodos de restauração, seja ela provisória ou permanente, a ser discutida adiante.
A aplicação dos critérios mencionados anteriormente auxilia o dentista a escolher o tratamento mais adequado para cada caso: seja optando pelo tradicional procedimento em duas fases ou pela inovadora carga imediata. Por exemplo, em situações onde o espaço entre os dentes opostos (espaço interoclusal) é limitado, impossibilitando a instalação de uma prótese temporária do tipo híbrido, uma abordagem mais demorada pode prevenir complicações relacionadas à altura da prótese. Nessas circunstâncias, com espaço interoclusal reduzido, é possível recorrer a uma prótese temporária que exige menos altura, como pontes ou coroas fixas, evitando assim o uso de estruturas que demandariam um espaço vertical maior. Se todos os cinco critérios forem satisfeitos, a decisão entre instalar uma prótese definitiva de imediato ou uma versão provisória se resume a fatores como custo, tempo dedicado antes e depois da operação, suporte do laboratório e preferências do paciente.
Existem várias abordagens para garantir a entrega imediata da prótese definitiva. Todas demandam um excelente suporte de laboratório e a preparação antecipada das partes necessárias, visando facilitar a finalização da prótese definitiva em um período de um a dois dias após a colocação do implante. Uma das técnicas envolve o uso de um modelo mestre para a produção laboratorial de uma estrutura segmentada, que pode ser finalizada e entregue logo após a conclusão do trabalho pelo técnico.
Referências
Block MS. Atlas Cirúrgico na Implantodontia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010.