A assimetria facial, independentemente de sua causa, representa um desafio que transcende a estética, impactando a funcionalidade, a comunicação e o bem-estar psicossocial dos pacientes. Condições como a paralisia facial podem criar desequilíbrios estáticos e dinâmicos que afetam desde as atividades mais básicas, como falar e comer, até a complexa interação social. Nesse cenário, a Harmonização Orofacial surge como uma área promissora, oferecendo abordagens terapêuticas efetivas e minimamente invasivas.
O trabalho que você está prestes a ler, de autoria de Laís Claudia Claudino Oliveira, investiga como a combinação da toxina botulínica com a eletroestimulação pode ser uma poderosa aliada no tratamento da assimetria facial. Este estudo, apresentado como requisito para a obtenção do título de Especialista em Harmonização Orofacial pelo renomado Instituto Velasco demonstra com clareza o potencial dessa abordagem combinada. A autora explora como o relaxamento de músculos hiperativos e o fortalecimento de músculos enfraquecidos podem restaurar o equilíbrio e a harmonia da face, devolvendo aos pacientes não apenas a simetria, mas também a confiança. Boa Leitura!
A harmonização orofacial emergiu como uma importante área da odontologia estética, com uma variedade de técnicas e abordagens que visam melhorar a aparência facial e restaurar a função adequada. Uma das preocupações comuns enfrentadas pelos profissionais de saúde e pacientes é a assimetria facial, que pode resultar em desequilíbrios funcionais e estéticos significativos. Ela pode ser causada por uma série de fatores, incluindo alterações musculares, assimetria óssea, desequilíbrios de tecidos moles, traumas e condições médicas, como a paralisia facial. A literatura descreve vários tipos clínicos de paralisia facial, sendo a paralisia facial periférica (PFP) ou paralisia de Bell a mais comum. Essa condição é caracterizada pela lesão do nervo facial, resultando em paralisia e perda de expressão em parte ou em toda a face. Isso compromete a estética facial e causa um impacto psicossocial significativo no paciente.
Uma pessoa com paralisia facial tem dificuldade para falar, comer e fazer expressões faciais, além de ter um rosto caído. O nervo facial regula a emoção, a fala e a expressão de um indivíduo. A paralisia facial tem um impacto negativo na qualidade de vida de um indivíduo, incluindo falta de autoconfiança, baixa autoestima e depressão devido ao desvio unilateral do rosto, podendo causar insatisfação, preocupação e isolamento social em um nível psicossocial.
A assimetria facial percebida nos pacientes, normalmente, é causada pelo lado fraco e paralisado, que apresenta flacidez, queda de sobrancelha e ângulo da boca caído. Já o lado não paralisado, por sua vez, age compensando os músculos fracos do lado oposto, o que ocasiona comumente hipertrofia muscular, rugas e desvio da boca.
Entre as opções de tratamento disponíveis, o uso da toxina botulínica tipo A e a eletroestimulação facial surgiram como abordagens promissoras para corrigir essa condição.
A toxina botulínica é obtida a partir de uma bactéria anaeróbica conhecida como Clostridium botulinum e pode ser utilizada para diversos fins, desde estéticos até o tratamento de várias doenças, como na reabilitação de pacientes com paralisia facial. Na prática clínica, ela é empregada para relaxar os músculos faciais hiperativos e corrigir assimetrias. Seu mecanismo de ação envolve a interrupção temporária da transmissão neuromuscular, resultando em relaxamento muscular localizado. Além disso, a eletroestimulação facial tem sido reconhecida por seu potencial em fortalecer e tonificar os músculos faciais, contribuindo para uma aparência facial mais simétrica e equilibrada. Portanto, as sessões de reabilitação são iniciadas imediatamente após o início da paralisia facial nos pacientes para melhorar a recuperação e os efeitos psicológicos.
Considerando a relevância clínica e o crescente interesse nessas modalidades de tratamento, este trabalho propõe uma investigação sobre os efeitos da combinação de toxina botulínica e eletroestimulação facial na correção da assimetria facial.
Assim, este estudo busca contribuir para uma compreensão mais abrangente das estratégias de harmonização orofacial no tratamento da assimetria facial, destacando o potencial terapêutico da combinação de toxina botulínica e eletroestimulação facial.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão de literatura onde a busca por publicações científicas foi realizada por meio das bases de dados indexadas ao Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed, Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME) e Google Acadêmico, datadas entre 2011 e 2022 com os seguintes descritores: Eletroestimulação na paralisia facial, paralisia facial periférica, reabilitação na paralisia facial, e seus correspondentes na língua inglesa: “Electrical stimulation in facial paralysis”, “peripheral facial paralysis”, “facial paralysis rehabilitation”, “Facial palsy” AND “electrostimulation, botulinum toxin facial asymmetry” e “botulinum toxin facial paralysis”.
REVISÃO DE LITERATURA
A paralisia facial representa o resultado final de uma ampla gama de distúrbios e etiologias heterogêneas, incluindo causas congênitas, traumáticas, infecciosas, neoplásicas e metabólicas.
Segundo Sales, A.G. (2006), o sétimo nervo craniano controla 17 músculos responsáveis pelos movimentos e expressões faciais. A paralisia facial pode resultar de várias causas, com mais de 75 etiologias possíveis, incluindo congênitas, traumáticas, neurológicas, infecciosas, metabólicas, neoplásicas, tóxicas, iatrogênicas e idiopáticas.
Hyppolito (2022) explica que, “na paralisia facial periférica, a pessoa tem uma desfiguração da face. Ocorre uma paralisia dos músculos da face, que compromete metade do rosto, o que a gente chama de uma hemiface.”
A paralisia mais comum é a Paralisia de Bell, conhecida como paralisia facial aguda e idiopática, uma condição que afeta o nervo facial, resultando em sintomas como dor na região mastoidea e a possibilidade de paralisia parcial ou total em um lado do rosto. Sua origem ainda é desconhecida.
Alguns estudos indicam que a principal causa da paralisia de Bell está relacionada à reativação do vírus herpes simplex tipo 1, que fica latente nos gânglios dos nervos cranianos. No entanto, o mecanismo exato pelo qual o vírus danifica o nervo facial permanece incerto. Geralmente, 70% dos pacientes se recuperam completamente em 6 meses.
A paralisia de Bell é menos frequente em crianças, mas mais frequente em gestantes e idosos com mais de 70 anos. Outros fatores de risco são diabetes e hipertensão arterial sistêmica. Os sintomas mais conhecidos são: fechamento incompleto dos olhos, lacrimejamento, dificuldade em sorrir, podendo também afetar a salivação e a perda de sensibilidade local.

Maio (2006) diz que os portadores de paralisia facial com mais de um ano de progressão têm maior gravidade, pois com a falta de expressão do lado paralisado, a assimetria facial é acentuada.
Segundo Caribé, L.C. (2023), a paralisia facial tem um grande impacto na vida dos pacientes. A assimetria facial observada geralmente é causada pelo lado afetado, que exibe flacidez, e o lado não afetado compensa os músculos fracos do outro lado, levando frequentemente à hipertrofia muscular, rugas e desvio da boca. Movimentos involuntários são comuns após a paralisia, e a toxina botulínica tipo A tem sido amplamente utilizada para tratar esse problema.
Além dos desafios físicos enfrentados, é importante destacar que essa condição também pode acarretar consequências psicológicas significativas por conta da assimetria facial e das dificuldades associadas à ingestão de líquidos e alimentos sólidos, por exemplo, que podem gerar constrangimento e impactar negativamente a qualidade de vida dos pacientes.
Segundo de Sanctis Pecora, C et al. (2021), podemos classificar a paralisia facial como flácida e não flácida, ocorrendo também sincinesia, hipercinesia e espasmos. Indivíduos com paralisia flácida podem apresentar ausência de rugas na fronte do lado paralisado e déficits funcionais importantes como incompetência oral, má articulação, mordida de lábios e mucosa bucal. Além disso, ptose de sobrancelha e da face, atrofia facial severa, sulco nasolabial apagado, afetando o sorriso no lado afetado.
Na paralisia não flácida, podemos incluir os movimentos involuntários, sincrônicos ou hiperativos da musculatura facial, sincinesia e espasmos no lado paralisado. Ainda, ao que diz respeito à sincinesia, podemos descrevê-la como uma sequela do nervo facial que pode ocorrer em qualquer área da face, com movimentos sincrônicos e involuntários da musculatura da mímica, principalmente ao sorrir ou piscar.
A hipercinesia refere-se à hiperatividade compensatória dos músculos faciais do lado não paralisado, consiste em assimetria estática e dinâmica da face, e os espasmos são contrações involuntárias da musculatura facial do lado paralisado.
Técnicas invasivas, como cirurgias, ou conservadoras, como farmacologia e fisioterapia, podem ser utilizadas para o tratamento da paralisia facial. Dentre os tratamentos conservadores, está a injeção de toxina botulínica no lado sadio da face para tratar assimetrias. As opções de tratamento da paralisia do nervo facial geralmente visam ativar a musculatura mimética do lado afetado ou melhorar a simetria em ambos os lados, podendo variar desde abordagens conservadoras (farmacológicas e fisioterapêuticas) até abordagens mais invasivas (métodos cirúrgicos), e a escolha depende da etiologia e da patogênese da condição.
Delgado Castillo et al. (2012) e Paula, Nader e Neto (2014) recomendam cinesioterapia, eletroestimulação funcional e facilitação neuromuscular proprioceptiva como tratamentos preferenciais. A eletroestimulação contribui significativamente para a reabilitação e o fortalecimento muscular, mas é crucial considerar os riscos e cuidados na implementação desses protocolos, pois uma execução inadequada pode resultar em complicações, como aumento das sincinesias patológicas e hiperexcitabilidade. Por fim, Chakravorty et al. (2021) dizem que a eletroestimulação pode auxiliar na diminuição da atrofia muscular e regenerar o nervo motor.
O posicionamento adequado dos eletrodos, que idealmente deve visar apenas a área dos músculos-alvo e suas proximidades, é um fator crucial no sucesso da eletroestimulação (ES).

Segundo Hypollito (2022), em alguns casos, é necessária cirurgia para descomprimir o nervo facial e, ainda assim, a aplicação de toxina botulínica. Ele ainda refere que tratamentos como eletroestimulação e acupuntura não têm evidências clínicas de melhora na literatura, embora haja relato clínico de que em 15 dias o rosto de um paciente com Paralisia de Bell já estava normalizado, tomando antibióticos e estímulos musculares na face afetada.
Nesse contexto, o profissional de Odontologia, na busca da simetria da face e da melhoria da autoestima dos indivíduos, pode intervir por meio de diferentes técnicas terapêuticas, aplicadas isoladamente ou em conjunto.
Sobre isso, Wenceslau et al. (2016) citam que a literatura aponta diversos tratamentos para a paralisia facial periférica ou paralisia de Bell. Vários são os procedimentos que podem ser escolhidos pelos profissionais da Odontologia para o tratamento da paralisia de Bell, entre eles: acupuntura, fios de sustentação, ácido hialurônico e laserterapia, mas os citados nesta pesquisa serão a eletroterapia e a toxina botulínica.
Segundo Andrade (2019), a toxina botulínica é reconhecida como o tratamento principal para assimetrias temporárias ou permanentes em pacientes com paralisia facial.
A toxina botulínica é um produto derivado da fermentação dos esporos da bactéria Clostridium botulinum, que são bactérias anaeróbicas gram-positivas encontradas na natureza. São conhecidos oito tipos de toxinas botulínicas: A, B, C1, C2, D, E, F e G, sendo o tipo A o mais usado em procedimentos estéticos e corretivos. A toxina age no músculo com a interrupção da liberação de acetilcolina, que é um neurotransmissor que transmite sinais nervosos e, com essa interrupção, ocorre relaxamento muscular temporário.
A toxina botulínica tem sido o tratamento de escolha nos casos de sincinesias e hiperlacrimejamento em pacientes com paralisia facial, com resultados muito positivos. Seu uso está em constante expansão na odontologia, com uma ampla gama de aplicações, não apenas em pacientes com alterações faciais, mas também em problemas relacionados à saúde bucal. Estudos mostram resultados positivos em comparação com outras formas de tratamento.
Andrade (2019) considerou a toxina botulínica como o principal tratamento para assimetrias temporárias ou permanentes em pacientes com paralisia facial. A técnica de injeção deve ser cuidadosamente considerada para minimizar eventos adversos e maximizar a eficácia. É crucial considerar a área de injeção, bem como a profundidade e o ângulo da agulha durante o procedimento, pois as unidades músculo-cutâneas podem variar em espessura.
Isso faz com que os pacientes tenham um condicionamento muscular, o que equilibra a simetria facial, através de um tratamento menos invasivo que melhora não apenas questões funcionais, mas também a autoestima e aspectos psicológicos do indivíduo.
Embora não haja um protocolo único de tratamento, a eletroestimulação é eficaz para combater a atividade muscular excessiva, espasmos e sincinesias, sendo uma das formas de tratamento comumente utilizadas.
A utilização da toxina botulínica, tanto para o tratamento de espasmos ou sincinesias quanto para melhorar a assimetria facial, ainda não é amplamente aceita devido à falta de consenso. Isso se deve à incerteza em relação às indicações, aos pontos de aplicação e à dose adequada. Não existem protocolos estabelecidos de forma definitiva, e há uma considerável variação nas doses administradas e na técnica de aplicação. Não é necessário tratar todas as regiões, como o músculo orbicular da boca, que é abordado somente em casos de desvio do filtro nasal ou assimetria de rugas, utilizando apenas 1 a 2 U.
Com a aplicação da toxina botulínica, o paciente experimentará uma redução da assimetria facial. Na maioria dos casos, são realizados múltiplos procedimentos, e os resultados mais satisfatórios são obtidos quando diferentes técnicas são combinadas. No entanto, acreditamos que nenhuma forma de terapia deve ser descartada, podendo ser empregada em conjunto com outros procedimentos, funcionando assim como uma terapia complementar para esses pacientes.

Embora a toxina botulínica seja amplamente considerada um tratamento seguro, podem ocorrer alguns efeitos adversos como fraqueza muscular temporária, dor no local da injeção, reações alérgicas, ptose tecidual, dificuldade na adaptação à nova posição dos lábios, hematomas, diplopia, epífora e equimose. É importante observar que a incidência desses efeitos colaterais geralmente é baixa, autolimitada e pode ser reduzida com uma injeção cuidadosa e precisa.
Para avaliar o grau de paralisia facial em pacientes, é fundamental realizar exames que possam identificar áreas hiperativas, hipoativas, entre outras anomalias musculares. As ferramentas mais utilizadas pelos profissionais são: Sistema de Classificação de House-Brackmann (HB), o Sistema de Avaliação Facial de Sunnybrook (FGS) e o Índice de Stennert (IS). Além disso, o Questionário de Avaliação de Sincinesia (SAQ) é composto por nove itens, projetado para avaliar a sincinesia facial, com uma pontuação que varia de 9 (normal) a 45 (sincinesia muito grave).
Os Escores de House-Brackmann é uma ferramenta que avalia a gravidade da paralisia facial. É uma escala que varia de I a VI, sendo I - função facial normal e VI - paralisia total.
O Sistema de Classificação Facial de Sunnybrook avalia movimento, simetria e sincinesias, gerando pontuações que variam de 0 a 100. Considera-se 100 - função normal; acima de 70, considera-se ainda um bom prognóstico.
Santos et al. (2020) encontraram resultados interessantes em seu estudo: Paciente M.A.N., 55 anos, do sexo masculino, leucodérmico, procurou a Clínica Odontológica da Universidade Positivo queixando-se de paralisia facial no lado direito, que ocorreu aproximadamente há uma semana. Relatou que a paralisia começou após uma mudança brusca de temperatura e percebeu a falta de movimento facial enquanto escovava os dentes, dois dias após o início dos sintomas. Procurou o pronto-socorro, onde foi diagnosticado com paralisia facial periférica de Bell e prescrito tratamento com antiviral (Aciclovir, 400 mg a cada 4 horas por 7 dias), corticoide (Prednisona, 20 mg, 2 comprimidos ao dia por 5 dias), solução oftálmica (Lacrifilm, 4 gotas no olho afetado a cada 6 horas) e curativo umedecido na solução (com micropore) à noite para evitar o ressecamento do globo ocular.
Durante a anamnese, observou-se perda dos movimentos faciais do lado direito, com comprometimento na fala, mastigação e estética. Devido às sequelas geradas, o paciente relatou implicações psicológicas e sociais. O tratamento complementar proposto foi a aplicação de toxina botulínica (100 U, Xeomin, Merz, Alemanha) visando reduzir a hiperatividade do lado não afetado. A toxina foi diluída em 1 ml de soro fisiológico a 0,9%, e a aplicação foi realizada no lado contralateral à paralisia. Os músculos identificados em hiperatividade receberam as seguintes doses de toxina botulínica: orbicular dos olhos: 2 unidades; músculo levantador do lábio superior e asa do nariz: 3 unidades; músculo risório e músculo orbicular dos lábios: 1 unidade cada. Após 2 a 3 dias, o paciente começou a sentir os efeitos do relaxamento. Após 15 dias, retornou à clínica para reavaliação, onde foi observada uma face mais harmoniosa e simétrica durante a execução da mímica facial. O paciente relatou sentir-se mais confiante, inclusive socialmente.

DISCUSSÃO
Segundo Machado, L.L. (2020), existem contraindicações para o uso de toxina botulínica, como pacientes alérgicos aos componentes do produto, gestantes, lactantes, pacientes com condições sistêmicas não controladas e imunodeprimidos, conforme informações nas bulas dos medicamentos fornecidas pelos fabricantes. Os pacientes recebem a orientação para não deitarem durante 4 horas seguintes à aplicação de toxina, e não fazer atividades físicas dentro de 24 horas.
Após a aplicação da toxina botulínica, a recuperação muscular ocorre em cerca de 3 meses, indicando seu efeito temporário, porém é eficaz e segura quando administrada por profissionais especializados. Seus efeitos são notados entre a 3ª e a 7ª semana, durando de 3 a 6 meses, com possibilidade de reavaliação em 4 meses para reaplicação.
No estudo de Salles, A.G. (2006), ficou evidente que as doses para tratar pacientes com paralisia facial devem ser individualizadas, levando em consideração a anatomia, o sexo e o quadro clínico de cada paciente. Quando identificados os músculos responsáveis pela assimetria, foi aplicado mais de um ponto de injeção em músculos com mais de 20mm de comprimento. Além disso, é observada uma necessidade de doses mais altas para pacientes do sexo masculino devido à sua massa muscular. No entanto, o uso da toxina ainda não é universalmente aceito em termos de indicação, dose e local de aplicação.
Os eventos adversos ocorrem mais frequentemente relacionados à difusão da neurotoxina além do músculo alvo, podendo ser decorrentes de doses mais elevadas de toxina botulínica, grande volume injetado ou problemas técnicos.
É necessário aguardar o período mínimo de 5 meses entre as aplicações, a fim de evitar atrofia excessiva ou definitiva. Para reduzir os eventos adversos relacionados à dose, Maio et al. (2021) propuseram que uma dose inicial mais baixa seguida por um segundo tratamento após duas semanas poderia diminuir o risco. O uso de doses elevadas não melhora o benefício estético ou o maior tempo de duração, mas sim, gera a possibilidade de complicações.
De Sanctis Pecora, C. & Shitara, D. (2021) dizem que as doses e os locais de injeção podem variar conforme a gravidade da sincinesia ou hipercinesia e o músculo afetado. Recomenda-se começar com doses menores na primeira sessão e reavaliar após duas semanas para possíveis injeções adicionais, visando compreender melhor as necessidades individuais do paciente em relação à toxina botulínica. Ainda, segundo os autores, a injeção de toxina botulínica é eficaz na restauração da simetria facial, reduzindo a hipercinese, a sincinesia e o desequilíbrio facial devido à paralisia facial. O desenvolvimento de um plano de injeção individualizado após uma avaliação minuciosa do paciente baseada na anatomia funcional, bem como a escolha adequada da técnica de injeção, leva à redução de eventos adversos, otimizando a eficácia e a satisfação do paciente.

O tratamento com a toxina botulínica será considerado seguro quando a quantidade utilizada for adequada às necessidades de cada músculo, sem ultrapassar a dose máxima permitida. Deve ser injetado no músculo hiperativo, geralmente com 1 a 4 injeções por músculo. Embora as injeções possam ser desconfortáveis, a intensidade varia dependendo da tolerância individual do paciente.
A satisfação obtida pela melhora da simetria facial foi notada pela adesão ao protocolo, índices de satisfação e retorno para aplicações subsequentes.
Embora seja uma abordagem terapêutica amplamente adotada, não há um protocolo universalmente aceito para seu uso. No entanto, a toxina botulínica demonstrou ser altamente eficaz no combate à atividade ou hiperatividade muscular, espasmos e sincinesias.
Além disso, o estudo de Fargher e Coulson (2017) investigou se a terapia de estimulação elétrica para pacientes com paralisia facial aguda ou crônica melhora o tempo e as taxas de recuperação completa e a função facial em comparação com nenhuma intervenção. Eles descobriram que não há riscos associados à eletroestimulação no tratamento de pacientes com paralisia facial em estágio agudo, enquanto há baixo efeito em casos crônicos.
Makela et al. (2019) concluíram em seus estudos que, mesmo nos casos em que os músculos estavam clinicamente totalmente paréticos e mesmo em paralisias que tinham vários anos, a estimulação poderia melhorar o movimento, desde que o músculo não estivesse completamente desnervado.
O uso da toxina botulínica após casos de paralisia facial aguda é de grande valia. Tal terapia diminui a hipercinesia relativa contralateral à paralisia, levando a uma função simétrica maior. Especialmente em pacientes com problemas médicos que limitam as opções de tratamento clínico ou cirúrgico, a terapia com toxina botulínica representa uma alternativa útil.
Moraleda (2020) conduziu um estudo onde realizou uma pesquisa de satisfação com pacientes que tinham sequelas devido à paralisia facial periférica e que foram tratados com toxina botulínica tipo A. Foi constatado que mais de 80% dos pacientes entrevistados relataram melhora na sensação de aperto na bochecha e no pescoço, enquanto 75% descreveram uma melhora na amplitude de movimento voluntário. Cerca de 100% dos pacientes entrevistados recomendariam o uso da toxina botulínica para pacientes com PFP.
Não foram encontradas evidências de qualquer efeito negativo da EE, bem como evidências da melhora ou redução da assimetria facial e de respostas musculares em pacientes acometidos pela PFP.
Munn, Cameron e Loyo (2020) observam que não houve diferenças significativas nas práticas e resultados entre terapeutas que utilizam EE e aqueles que não a utilizam para pacientes com PFP. Os autores destacam a necessidade de indicadores mais refinados para garantir a eficácia da Estimulação Elétrica (EE) no tratamento da PFP.
Segundo o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), em janeiro de 2017, a Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN) declarou que o uso da eletroestimulação na paralisia facial periférica não é recomendado. No entanto, caso os eletrodos sejam específicos para a musculatura da face, é essencial que sejam adequadamente ajustados para evitar a ocorrência de discinesias. A eletroestimulação pode acarretar grandes riscos de complicações e movimentos involuntários durante o processo de recuperação do paciente.
Munn, Cameron e Oyo (2020) conduziram um estudo que integrou evidências médicas com opiniões de 193 fisioterapeutas, dos quais 52 estavam envolvidos no tratamento da paralisia facial periférica. Após analisarem os dados, constataram que os pacientes submetidos à estimulação elétrica não apresentaram melhorias significativas em comparação com aqueles que receberam outras formas de tratamento. Concluíram que a eletroterapia necessita de indicadores de eficácia mais robustos e resultados comprovados para ser considerada uma alternativa viável para os pacientes, corroborando assim a teoria mencionada anteriormente.
Sommerauer L et al. (2021) dizem que se deve dedicar uma atenção especial a esta modalidade terapêutica, visando preservar a musculatura facial, e seus benefícios precisam ser avaliados em estudos clínicos prospectivos adicionais.
Segundo Tariq, A.H. (2023), a estimulação elétrica ativa os músculos faciais, facilitando a realização de expressões faciais. A intensidade da estimulação deve ser ajustada de acordo com o limiar de dor do paciente, pois níveis inadequados podem causar desconforto. Embora a estimulação elétrica tenha demonstrado recuperação, é mais eficaz quando combinada com outras técnicas de reabilitação.
CONCLUSÃO
A utilização da toxina botulínica e da eletroestimulação oferecem abordagens complementares e eficazes no tratamento da paralisia facial periférica. Enquanto a toxina botulínica relaxa os músculos hiperativos, a eletroestimulação fortalece e tonifica os músculos faciais, promovendo um equilíbrio na face. Tanto a estimulação elétrica quanto o uso da toxina botulínica têm sido reconhecidos como terapias eficazes no tratamento da paralisia facial periférica.
Embora a estimulação elétrica tenha demonstrado resultados positivos, seu potencial é maximizado quando combinado com outras técnicas de reabilitação. Por outro lado, a toxina botulínica é valorizada por sua eficácia, custo-benefício e natureza menos invasiva, contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Acredita-se que nenhuma forma de terapia deva ser descartada, e sim empregada em conjunto com outros procedimentos, funcionando assim como uma terapia complementar.
Apesar de ainda não haver um protocolo único para o uso da toxina botulínica, sua crescente utilização indica sua importância como uma opção terapêutica promissora na busca pela correção da assimetria facial em pacientes com paralisia facial. No entanto, são necessárias mais pesquisas para desenvolver diretrizes claras e aprimorar ainda mais sua eficácia e segurança.
Quanto aos locais de aplicação e à quantidade de toxina botulínica por área, esses variam de um paciente para outro. Portanto, é necessário conduzir uma anamnese detalhada, levando em consideração as características individuais de cada paciente, a fim de criar um protocolo personalizado. Todos os estudos concordam que a técnica deve ser executada por um profissional com amplo conhecimento teórico e prático, visando prevenir quaisquer complicações decorrentes do procedimento.
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