Como a Macrogeometria do Implante Dentário Afeta a Estabilidade Primária do Implante?
O desenho do implante é crucial para alcançar estabilidade primária e secundária, essenciais para uma osseointegração bem-sucedida.
A Implantodontia é uma especialidade odontológica focada em substituir dentes ausentes por implantes dentários, postes em forma de parafuso, geralmente de titânio, inseridos cirurgicamente no osso maxilar. Estes implantes suportam dentes ou pontes de substituição e apresentam vantagens significativas como funcionalidade, durabilidade e estética, podendo durar décadas ou até uma vida inteira com os devidos cuidados. Com uma taxa de sucesso superior a 95%, os implantes dentários se destacam pela alta biocompatibilidade do material, que promove a fusão com o osso maxilar, mantendo a densidade óssea e prevenindo a perda óssea. A colocação de implantes pode ser imediata, adiada ou tardia, dependendo do intervalo entre a extração do dente e a colocação do implante.
Métodos de Colocação de Implante
A colocação imediata do implante ocorre logo após a extração do dente, sendo indicada quando há volume ósseo suficiente para estabilizar o implante. Esta abordagem reduz o tempo de tratamento e é bem aceita pelos pacientes. A colocação adiada acontece semanas ou meses após a extração, permitindo um tempo de cicatrização adequado para suportar o implante. Já a colocação tardia se refere à inserção do implante muito tempo após a perda do dente, podendo necessitar de procedimentos adicionais para garantir volume ósseo adequado.
Desenho do Implante
O desenho do implante é crucial para alcançar estabilidade primária e secundária, essenciais para uma osseointegração bem-sucedida. Fatores de design importantes incluem diâmetro, comprimento, desenho da rosca, rugosidade superficial e forma do implante.
Objetivo da Revisão
Esta revisão narrativa buscou responder à questão: Qual é a influência do macrodesign na estabilidade primária dos implantes dentários? Para isso, foram utilizadas bases de dados eletrônicas como PubMed, Embase e Cochrane Library, com termos de busca relacionados à macrogeometria do implante e estabilidade primária. Os estudos selecionados tiveram sua qualidade metodológica avaliada, e os dados relevantes foram extraídos e analisados.
Resultados e Discussão
Revisão da Literatura sobre o Efeito da Macrogeometria do Implante Dentário na Estabilidade Primária do Implante
A revisão da literatura indica que a macrogeometria do implante é fundamental para alcançar a estabilidade primária do implante. Estudos compararam a estabilidade primária de implantes com diferentes macrogeometrias, como designs cilíndricos, cônicos e híbridos. Os resultados mostraram maior estabilidade primária para o design híbrido, seguido pelo cônico e, por último, o cilíndrico. Além disso, implantes com roscas em V apresentaram maior estabilidade primária em comparação com roscas quadradas. Apesar desses achados, mais estudos são necessários para explorar o impacto da macrogeometria na estabilidade primária e determinar o design de macrogeometria ótimo para diferentes situações clínicas.
Impacto da Forma do Corpo do Implante na Estabilidade Primária
Faz-se uma distinção essencial entre implantes cilíndricos e cônicos, sendo os últimos cada vez mais populares devido à facilidade de uso clínico, redução nas sequências de perfuração, tempos de cicatrização potencialmente mais curtos e menor trauma cirúrgico. Implantes cônicos, especialmente, demonstram maior estabilidade primária devido à compressão lateral e vertical no osso, enquanto implantes cilíndricos dependem da fricção estática ao longo do eixo do implante. Estudos ex vivo e clínicos confirmaram a superioridade da estabilidade primária dos implantes cônicos em relação aos designs padrão. Além disso, implantes cônicos são considerados para ter propriedades melhoradas de osseointegração. Em contraste, implantes com design de topo paralelo ao crista ou com design de contra-taper são melhores para aliviar a pressão no osso. A escolha de sistemas de implante cônicos com roscas duplas e baixo ângulo de hélice das roscas é recomendada para a colocação imediata do implante, exigindo alta estabilidade primária.
Embora os implantes cônicos ofereçam maior estabilidade primária e uma distribuição mais uniforme das forças, desafios existem, como a necessidade de uma abordagem cirúrgica mais invasiva para preparar o local do implante e garantir a colocação adequada. O Consenso do Grupo 1 ITI de 2018 destaca que tanto implantes cônicos quanto não cônicos demonstram desempenho satisfatório em relação aos níveis de osso marginal em 3 anos, indicando que ambos os tipos podem ser usados conforme a preferência do operador. Implantes cônicos podem ser benéficos em situações clínicas específicas para evitar danos a estruturas anatômicas ou fenestrações apicais. Contudo, a significância clínica da forma do implante para o sucesso a longo prazo ainda não é clara.
Como o Comprimento do Implante Afeta a Estabilidade Primária?
O macrodesign do implante é determinado não apenas pela forma, mas também pelo comprimento e espessura. Implantes longos e grossos são indicados para casos de perda óssea significativa ou para suportar restaurações protéticas maiores. Geralmente definidos como aqueles com 15 mm ou mais de comprimento, oferecem maior área de superfície para osseointegração e, consequentemente, maior estabilidade primária, especialmente em áreas com densidade e altura ósseas reduzidas. Por outro lado, implantes espessos são projetados para maior estabilidade mecânica e resistência a cargas maiores, frequentemente utilizados na maxila ou mandíbula posterior. O uso de implantes longos e largos pode requerer uma abordagem cirúrgica mais invasiva e precisão no posicionamento devido ao seu tamanho.
Estudos indicam que a estabilidade primária aumenta significativamente com o comprimento do implante. Entretanto, em osso denso, diferentes comprimentos e diâmetros de implantes não resultam em significativas variações na estabilidade primária. O Relatório de Consenso ITI define implantes curtos como aqueles com ≤6 mm, concluindo que exibem taxas de sobrevivência similares aos implantes mais longos após 1 a 5 anos, com taxas de sobrevivência de próteses comparáveis em ambos os grupos. Recomenda-se o uso de implantes curtos onde procedimentos de enxerto ósseo são contraindicados ou para reduzir o tempo de tratamento, enquanto implantes com mais de 6 mm são preferidos quando colocados sem riscos cirúrgicos aumentados. A relação entre o comprimento da coroa e do implante também é relevante, especialmente em conceitos de carga imediata, onde o aumento da relação coroa-implante pode elevar o estresse peri-implantar.
Como o Diâmetro do Implante Afeta a Estabilidade Primária?
Implantes de diâmetro estreito são classificados em três categorias, baseadas no diâmetro: menos de 2.5 mm (mini-implantes), de 2.5 a menos de 3.3 mm, e de 3.3 a 3.5 mm. Já os implantes de diâmetro largo têm diâmetro igual ou superior a 5 mm. Estudos em animais sugerem que um diâmetro maior está associado a uma maior estabilidade primária, sendo o diâmetro do implante um parâmetro crucial para a distribuição de carga e estresse. Contudo, estudos também mostram que implantes de diâmetros reduzidos podem desenvolver suficiente estabilidade primária em ossos de qualidade inferior.
Embora existam estudos com resultados variados sobre o impacto do diâmetro do implante na taxa de sobrevivência e sucesso, a Conferência de Consenso ITI em 2018 relatou taxas de sobrevivência similares para implantes estreitos e de diâmetro padrão. O diâmetro torna-se um fator decisivo especialmente quando o comprimento do implante é adequado, particularmente nas regiões posteriores, onde as forças mastigatórias são significativamente mais altas e a qualidade óssea na maxila é frequentemente baixa.
Como o Design da Rosca Afeta a Estabilidade Primária?
O design da rosca é decisivo para a estabilidade primária mecânica inicial e a subsequente estabilidade secundária biológica do implante. Variações no design incluem profundidade, largura, passo, ângulo da face e ângulo da hélice, com formatos de rosca como V, quadrado, trapezoidal e helicoidal. Implantes com passo pequeno têm mais roscas por comprimento, resultando em uma maior área de superfície do implante e, potencialmente, uma melhor distribuição de carga. Parâmetros macrodesign como esses são interdependentes e contribuem para o aumento da estabilidade primária.
Uma revisão sistemática atual sobre o design da rosca revelou uma situação de estudo heterogênea, mas encontrou maior contato osso-implante com a presença de roscas, especialmente aquelas com menor passo e maior profundidade, e roscas auto-rosqueáveis agressivas foram relatadas para aumentar a estabilidade primária.

Profundidade da Rosca
Implantes com roscas foram desenvolvidos inicialmente para permitir maior compressão do osso cortical em locais de qualidade óssea inferior. A profundidade da rosca é definida pela relação do contorno externo com o corpo principal do implante, indicando a distância que as espirais se projetam do corpo principal. Quanto maior essa distância, maior a superfície funcional e a distribuição de carga, o que pode ser vantajoso em ossos mais macios e sob forças oclusais elevadas, aumentando a estabilidade primária. Porém, profundidades maiores das roscas podem reduzir a precisão da inserção. Com roscas muito profundas, torna-se desafiador garantir um suprimento vascular adequado ao osso até a raiz da rosca, sendo recomendável a pré-roscagem para evitar estresse compressivo excessivo no osso circundante.
Ângulo Helicoidal da Rosca
O ângulo helicoidal da rosca é definido como o ângulo entre a moagem da rosca e o plano perpendicular ao eixo longitudinal do implante, influenciando a propulsão do implante durante sua inserção. Um ângulo helicoidal alto requer menos rotações para inserir o implante em sua totalidade, mas pode levar à rotação longitudinal do implante sob carga axial. Análises de elementos finitos mostram que a colocação mais rápida de implantes multi-roscados está associada a uma taxa de falha do implante mais alta. Implantes multi-roscados permitem uma colocação mais rápida, embora isso possa comprometer a estabilidade primária.
Largura da Rosca, Forma da Rosca e Ângulo da Face
A largura da rosca influencia o guia de inserção do implante, dependendo da forma da rosca. Implantes com roscas em V e quadradas largas causam significativamente menos estresse no osso esponjoso do que formas quadradas finas. Em osso cortical, não foi detectada diferença. Sob carga dinâmica, a densidade óssea é mais alta diretamente sob a espiral. Roscas quadradas e de suporte distribuem forças axiais principalmente como forças compressivas, enquanto roscas em V reversas transformam forças axiais em forças de cisalhamento e compressão. A utilização de uma largura de rosca ampla muitas vezes requer o pré-corte da cavidade óssea e garante uma inserção do implante facilitada, reduzindo significativamente o torque de inserção. Por outro lado, implantes auto-roscantes frequentemente levam a uma maior estabilidade primária, especialmente em ossos mais macios ou alvéolos de extração recentes.
O ângulo da face da rosca, que é o ângulo entre a face da rosca e o horizontal em relação ao eixo longitudinal do implante, determina diretamente a direção da carga do implante para o osso circundante. Roscas com ângulo de face em V desenvolvem mais forças de cisalhamento, predispondo à formação de defeitos. Portanto, a escolha do design da rosca, incluindo a profundidade, largura e ângulo da face, é crucial para otimizar a estabilidade primária do implante e a distribuição da carga.
Roscas Adicionais
O uso de ombros de implantes lisos foi inicialmente adotado para reduzir o acúmulo de placa quando a parte crestal do implante ficava acima do nível ósseo. Contudo, o problema de colocar o ombro liso do implante abaixo do nível ósseo sob estresse de cisalhamento pode resultar em perda óssea marginal com formação de bolsas. Assim, desenvolveram-se implantes com elementos de retenção e roscas ao redor do ombro do implante para melhor integração no osso cortical, reduzindo a reabsorção óssea. Análises de elementos finitos confirmaram essa teoria, embora estudos ex vivo e in vivo apresentem dados ambíguos sobre se roscas localizadas no ápice contribuem para uma melhor distribuição de carga e, consequentemente, para a preservação ou degradação do osso crestal.
Conclusão
As formas associadas à alta estabilidade primária incluem implantes cônicos, apicais cônicos e híbridos. O aumento do comprimento do implante eleva linearmente a superfície de contato com o osso circundante e, assim, a estabilidade primária, relação essa que se mantém até 12 mm. Implantes cônicos são adequados para protocolos de colocação imediata e na região anterior, pois apresentam melhor distribuição de carga e menor risco de perfuração óssea com espessuras ósseas bucais finas. Em mandíbulas atróficas, implantes de comprimento e diâmetro reduzidos representam uma alternativa a procedimentos de aumento. Com controle estrito do torque e preparo ósseo ideal, bons resultados são esperados mesmo sob condições desafiadoras.
A combinação de implantes curtos com implantes mais longos é recomendada em casos de baixa densidade óssea e altura reduzida da crista alveolar, devido a taxas de sobrevivência similares para aumentar as taxas de sucesso dos implantes. Macroestruturas associadas a um alto efeito na área de contato osso-implante e, portanto, na estabilidade primária, incluem diâmetro e rosca. Uma maior profundidade de rosca parece vantajosa ao inserir sob forças oclusais elevadas e baixa densidade óssea. Roscas em V e quadradas podem reduzir o estresse no osso, enquanto roscas quadradas e cruzadas podem reduzir a compressão. Além disso, roscas auto-roscantes são recomendadas para aumentar a estabilidade primária, especialmente em ossos de baixa densidade.
As limitações desta revisão narrativa incluem a inconsistência nos termos técnicos e a grande heterogeneidade dos estudos incluídos. Há falta de estudos clínicos prospectivos analisando diferenças na macrogeometria do implante em relação à estabilidade primária e sucesso a longo prazo, portanto, não é possível tirar conclusões nesse aspecto. A escolha do implante deve ser feita individualmente para cada caso, considerando os fatores locais e sistêmicos do paciente, a habilidade do cirurgião e as possibilidades técnicas. A experiência do cirurgião e sua proficiência com o design do implante específico também são importantes. Um design de implante ideal para o caso não traz benefícios se o praticante não souber manuseá-lo no cotidiano. Além disso, a evidência para muitos parâmetros que definem o macrodesign do implante dental é frequentemente muito limitada, devido à atual falta de estudos de alta qualidade.
Download: