O Impacto da Harmonização Orofacial na Autoestima Feminina Frente ao Irreal Padrão de Beleza Contemporâneo
Este TCC aborda um tema de profunda relevância psicossocial, analisando a complexa relação entre os procedimentos de Harmonização Orofacial, a autoestima feminina e os padrões de beleza impostos pela sociedade contemporânea, especialmente pelas mídias sociais. A autora investiga como a busca incessante por um ideal estético afeta a saúde mental das mulheres e como tratamentos com toxina botulínica e preenchedores de ácido hialurônico podem impactar positivamente não apenas a aparência, mas também a autoconfiança e os sintomas de ansiedade e depressão.
A leitura deste trabalho é crucial para o profissional que busca uma prática clínica mais humanizada e consciente, compreendendo o paciente em sua totalidade. O conteúdo alerta para a necessidade de ir além da técnica, sabendo identificar as motivações psicológicas por trás da busca por procedimentos estéticos e a importância de uma abordagem ética e, quando necessário, multidisciplinar. Trata-se de uma reflexão indispensável sobre o papel do profissional de HOF como promotor de bem-estar integral. Este trabalho foi apresentado por Melani Facchin Guedes como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para a obtenção do título de Especialista em Harmonização Orofacial pelo Instituto Velasco.
INTRODUÇÃO
A palavra estética tem origem grega, aisthetiké, e significa “aquele que nota”, sendo conhecida como o estudo do que é belo nas manifestações artísticas e naturais. Para a sociedade grega, tanto a estética quanto o físico e o intelecto faziam parte da busca pela perfeição humana; ter um corpo bonito era considerado tão importante quanto possuir uma mente brilhante (7).
Muito mais do que cuidar da aparência física, a estética da atualidade tem o desafio de cuidar do ser humano em toda a sua complexidade psicológica, objetivando encontrar a melhor versão de cada pessoa (2).
Um dos autores mais renomados da estética facial, Mauricio de Maio (2023), diz que a sinergia entre o bem-estar físico e mental cria um forte senso de autoconfiança, que por sua vez, afeta como as pessoas percebem a si mesmas em situações sociais. Com base nisso, o autor trabalha em sua técnica o conceito de que o tratamento estético direcionado para melhorar as mensagens emocionais faciais e seus atributos sociais maximiza a satisfação do paciente com os resultados do tratamento. Sua famosa técnica para preenchimento facial, o MD Codes, dá grande importância a essas mensagens psicossociais na avaliação dos anseios do paciente (3).
A importância da aparência estética está cada dia mais presente e relevante na vida das pessoas; é visível que quem se sente bem fisicamente é mais feliz e decidido, com maior qualidade de vida (1, 4).
Evidências sugerem que a aparência facial influencia fortemente as primeiras impressões e que pessoas com rostos mais atraentes são percebidas como sendo mais competentes, extrovertidas, inteligentes e bem-sucedidas (5).
É fato amplamente conhecido a relação entre autopercepção de beleza e autoestima nas mulheres. O rosto, em especial, tem uma função importante em como a pessoa se sente consigo mesma e a imagem que passa enquanto ser humano aos outros.
Como a aparência facial tem um papel de grande importância na autoestima, a presença de marcas, alterações e/ou deformidades influencia negativamente os aspectos psicossociais do paciente (6, 7).
Portanto, a avaliação da autoestima do paciente torna-se importante ao profissional da estética, uma vez que ela interfere na saúde física e mental, com repercussões sobre sua vida social e afetiva, bem-estar e qualidade de vida (7, 8). Pessoas com alta autoestima tendem a gozar de melhor saúde física e mental (2).
As mudanças na aparência facial relacionadas à idade também podem impactar as interações sociais e afetar negativamente a autoestima, qualidade de vida e estado mental do indivíduo. Idade, estresse e emoções negativas levam a um maior estímulo da musculatura da mímica e, subsequentemente, a alterações e marcas na face que podem inclusive levar a um isolamento social, visto que a vida social e o estado mental de uma pessoa estão, sem dúvidas, diretamente relacionados à sua aparência física (7).
A disparidade entre a idade sentida internamente e a idade real refletida no espelho pode se tornar uma fonte de tensão e insatisfação que aumenta com o tempo.
O envelhecimento, no geral, pode resultar em consequências psicossociais negativas, que vão desde pensamentos e sentimentos autocentrados, como vergonha, constrangimento e ansiedade, até à percepção de discriminação ou negligência social (5).
O envelhecimento facial é multifatorial e inevitável, porém as mulheres, principalmente, sofrem muito de baixa autoestima e insegurança com a autoimagem devido ao etarismo que sofrem.
Esse etarismo prejudica as mulheres de várias maneiras, desde discriminação no local de trabalho até pressões sociais que as fazem sentir-se inadequadas ou invisíveis à medida que envelhecem. A mídia muitas vezes retrata um padrão irreal de beleza e vitalidade associado à juventude, marginalizando as mulheres mais velhas e reforçando estereótipos. Isso pode levar a uma diminuição da autoestima, além de afetar negativamente as relações pessoais e a saúde mental das mulheres.
Com o avanço das técnicas de harmonização orofacial, aliadas aos cuidados com fatores intrínsecos relacionados ao envelhecimento, como boa alimentação, suplementação e atividade física, entre outros, é possível retardar esse processo.
A busca por procedimentos estéticos tem crescido de forma significativa, impulsionada pela busca incessante de uma aparência perfeita e rejuvenescida (4, 9, 10). A crença de que devemos parecer belos a qualquer custo, em conjunto com a preocupação excessiva sobre a opinião dos outros e o medo de não sermos queridos, podem levar a uma disparidade entre a integridade do corpo e da mente, causando problemas em nossos relacionamentos (7).
Vivemos em um mundo onde essa busca pela perfeição, principalmente entre as mulheres, é incessante. Para sermos consideradas notáveis, somos influenciadas em nossa forma de pensar e agir, o que nos conduz à busca de um corpo “socialmente aceito”. Na preocupação com a aparência exterior, uma vez que a sociedade estabelece padrões de beleza, é válido questionar se o que é considerado belo pelos outros é, de fato, o que nos proporciona real satisfação (9).
Mas tais padrões de beleza estão em constante mudança, não existindo um padrão universal (1). Fato que torna essa busca pela perfeição, além de incessante (9), impossível de ser alcançada.
Essa necessidade de “corrigir defeitos” na aparência física surge devido a um sentimento de inadequação aos modelos de beleza tidos como perfeitos. Como muitas vezes as questões estéticas se relacionam diretamente com fatores psicológicos, podem não ser solucionadas com a realização de tais procedimentos, visto que, cada vez mais, os clientes buscam nos tratamentos estéticos a resposta para seus conflitos internos (11).
O aumento da popularidade dos procedimentos estéticos minimamente invasivos reflete a incessante busca por aprimoramentos na aparência, com reflexo direto na autoestima (1, 4, 5, 9, 10). Sua procura cresce ano após ano e, conforme a especialidade de harmonização orofacial se expande, aumenta também o potencial para complicações (9, 10).
Sem dúvida, os procedimentos minimamente invasivos estão associados a menos complicações graves do que os procedimentos cirúrgicos. No entanto, um risco pequeno, porém significativo, de complicações graves permanece, e estas podem ocorrer mesmo nas mãos mais habilidosas e experientes. Tais eventos podem mudar vidas quando ocorrem (10).
Por isso, torna-se crucial o profissional ser ético e esclarecer ao paciente todos os perigos inerentes a tais procedimentos, alertando sobre sua realização excessiva e sem necessidade (9, 10).
Como profissionais da saúde, justificamos o risco de complicações com os injetáveis estéticos com a compensação desses riscos pelos benefícios relacionados, principalmente no que diz respeito à saúde social e ao bem-estar psicológico. Essa importância psicológica chega a estar escrita nas indicações de uso estético das toxinas (onabotulinumtoxin A, abobotulinumtoxin A e incobotulinumtoxin A), que devem ser reservadas para o tratamento de linhas faciais quando sua gravidade “tem um impacto psicológico importante” (10).
Essa procura desenfreada por intervenções estéticas, atribuída à busca incessante pelo padrão de beleza culturalmente predeterminado e muitas vezes inatingível, resulta em uma série de ameaças à saúde física e mental, denotando a importância de submetermos o paciente a exames prévios antes de qualquer procedimento, abordando os riscos associados à realização excessiva e desnecessária dos mesmos (3, 9).
Temos o desafio, durante a avaliação do paciente, de decodificar os motivos subjacentes que o levam a buscar o tratamento estético, pois esse anseio por uma aparência idealizada que busca a perfeição inexistente pode se transformar em uma espécie de vício por procedimentos estéticos, levando as pessoas a procurar constantemente novos tratamentos, mesmo na ausência de uma indicação clínica adequada. Essa busca incessante pode ser motivada pela crença de que cada procedimento trará a perfeição almejada. Além disso, a dependência psicológica dos procedimentos pode resultar em um ciclo de insatisfação constante e baixa autoestima (9).
As redes sociais nos convidam a apresentar versões editadas e melhoradas de nossa aparência física. Aplicativos como Instagram e Snapchat possuem filtros integrados e recursos de edição de fotografias que permitem aos usuários suavizar rugas ou remodelar características faciais antes de compartilhar as selfies (fotografias de si mesmo). A onipresença das mídias sociais e dos aplicativos de edição de imagens afeta significativamente o campo da estética (12, 13).
Hoje em dia, a influência da mídia social e o tempo de tela parecem ser fatores importantes na alteração de percepção da imagem corporal (12, 14, 15).
Estudos demonstraram que o uso frequente das redes sociais pode levar a ideais de imagem corporal irreais, a uma preocupação significativa com a aparência e a transtornos de ansiedade (15).
Os indivíduos podem começar a comparar-se com imagens retocadas por filtros de redes sociais, levando a uma desconexão com sua própria aparência real. Isso afeta muito a autoestima, gerando insatisfação crônica e criando problemas de saúde mental, sendo o mais comum o Transtorno de Dismorfia Corporal (TDC) (9, 15).
O uso excessivo de mídias sociais pode aumentar a preocupação com defeitos de imagem imaginários entre os pacientes que possuem o TDC, levando-os a procurar cada vez mais procedimentos estéticos (15).
A exposição maior da figura em plataformas de reuniões como o Zoom, que teve um crescimento exponencial durante a Pandemia da COVID, também fez com que seus usuários vissem constantemente sua imagem, causando uma maior percepção da própria aparência, o que também resultou no aumento do interesse por procedimentos estéticos nos últimos anos (15).
A autoestima cria um conjunto de expectativas sobre o que é possível e apropriado para cada um. Essas expectativas tendem a gerar ações que se tornam realidades, e tais realidades confirmam e reforçam as crenças originais. É uma decisão individual trabalhar para mudar algumas dessas crenças e tentar refletir sobre quais são as causas prováveis de algumas insatisfações, para que se possa criar uma situação da vida mais alinhada às suas próprias expectativas (2). Nós, como profissionais da saúde, antes de tudo, devemos orientar o paciente que precisa dessa abordagem psicológica multidisciplinar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de afecções e enfermidades” (16). Sendo assim, quando os indivíduos buscam por procedimentos que tragam melhorias na estética e se sentem satisfeitos com os resultados, isso reflete também na melhora da qualidade de vida e, consequentemente, terão reflexos positivos em sua saúde geral.
Nesse contexto, a ideia é usar a estética na área da saúde com o objetivo de encontrar e mostrar a melhor versão de cada pessoa, cobrindo não apenas o nível físico, mas principalmente o psicológico.
Nos últimos anos, tem havido um reconhecimento crescente de que os benefícios dos procedimentos de rejuvenescimento facial vão além da aparência física. Tais procedimentos podem servir como catalisadores para melhorias mensuráveis no estado emocional do paciente a longo prazo (5).
A percepção de beleza é provavelmente influenciada por muitos fatores e ainda requer uma investigação mais aprofundada. Há um grande debate sobre se a beleza é predefinida por padrões específicos incorporados ao comportamento inato ou se é subjetiva e varia dependendo de quem olha. A verdade provavelmente está em algum lugar entre esses dois conceitos (15).
PROPOSIÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo avaliar, através de uma revisão de literatura, como essa busca incessante por estética facial afeta psicológica e fisicamente as mulheres, quais são os tratamentos mais eficientes para melhorar a sensação de bem-estar, ansiedade e depressão causados pela busca incansável do rosto perfeito, e analisar o impacto dos procedimentos mais comumente realizados dentro da Harmonização Orofacial: aplicação de toxina botulínica e preenchedores de Ácido Hialurônico, na autoestima e transtornos de ansiedade e depressão da mulher.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizada uma revisão de literatura no período de 1º de janeiro a 10 de março de 2024, nas bases de dados PUBMED, LILACS (Literatura Latino-americana e Caribenha em Ciências da Saúde), Google Acadêmico e SciELO (Scientific Electronic Library Online/Brasil).
Os critérios de inclusão foram artigos publicados em português e inglês nos anos de 2004 a 2024 que abordaram a importância dos procedimentos estéticos na autoestima e na saúde mental de mulheres, e estudos que abordaram a influência das redes sociais na autoestima e decisão de procura por procedimentos estéticos.
Os critérios de exclusão foram os estudos publicados em outras línguas ou fora do intervalo temporal especificado. Tal corte temporal foi selecionado com o objetivo de abranger e comparar a produção literária sobre o tema desde o início do uso popular da internet no Brasil, que sucedeu a invenção das redes sociais (Orkut em 2004), até a atualidade.
A partir dos cruzamentos de dados foram encontrados 22 artigos, que usaram como palavras-chave: self-esteem, aging face, psychological and social effects of facial treatments, aesthetics, hyaluronic acid, filler, botulinum toxin.
DISCUSSÃO
ASPECTOS GERAIS
Embora os tratamentos que visam resolver os problemas estéticos sejam comuns, os motivos que levam as pessoas a considerá-los ainda não foram suficientemente explorados pela ciência.
Para entendermos como a estética pode influenciar a saúde mental e física e atuar na qualidade de vida dos indivíduos, é necessário tecer comentários acerca do significado do termo autoestima (1).
Ao nascer, temos nossas necessidades satisfeitas sem que tenhamos a percepção do “outro”. Conforme crescemos, o mundo exterior vai se tornando distinguível, percebemos que habitamos um corpo e temos clareza do “eu”. Essa identificação que o indivíduo estabelece com o mundo exterior interfere na formação da sua autoestima. Relacionamentos familiares exercem papel fundamental na aceitação que a pessoa tem de si mesma, influenciando diretamente sua autoestima conforme o indivíduo tem seu comportamento reforçado ou criticado (8).
As condições sociais e culturais, por meio dos processos educativos, fazem com que o indivíduo assimile valores e regras que começam a fazer parte do ser único e individual que o diferencia dos outros. Esse processo de individuação também sofre influência da música, literatura, pintura, cinema, teatro, entre outros (8, 15). Atualmente, muitos estudos verificam também o impacto das redes sociais nessa formação de personalidade.
Logo, a autoestima corresponde à valoração intrínseca que o indivíduo faz de si mesmo em diferentes situações e eventos da vida, a partir de um determinado conjunto de valores eleitos por ele como positivos ou negativos (1, 8).
Quando essa percepção de si é positiva, a pessoa possui uma alta autoestima, ou seja, ela se valoriza e demonstra confiança em seus atos e julgamentos (1, 2).
Pessoas com elevada autoestima, por confiarem mais em si mesmas, evitam o estresse gerado pela insegurança (1, 2). Isso ajuda a desenvolver melhor suas habilidades pessoais, estabelecer objetivos de vida e alcançá-los mais facilmente. Além disso, essas pessoas tendem a ser mais empáticas e mostram mais capacidade de perdoar erros. São indivíduos que tendem a evitar conflitos, mas quando ocorrem, são mais capazes de os enfrentar e resolver (2).
A preocupação com a autoimagem corporal tem crescido, pois a beleza adquiriu um significado de aceitação ou rejeição social. A preocupação excessiva com padrões estéticos surge devido à cultura da “boa forma” e às inúmeras propagandas que associam o corpo perfeito ao sucesso (11).
À medida que o fascínio por procedimentos estéticos cresce, leva-nos a explorar seus efeitos multifacetados, particularly em domínios que vão além das óbvias transformações físicas (3).
Existem evidências substanciais mostrando o impacto de procedimentos cirúrgicos estéticos no aumento da confiança, autoestima e qualidade de vida dos pacientes que se submetem a eles. Entretanto, os efeitos dos procedimentos minimamente invasivos ainda não estão bem delineados pela perspectiva científica. Interessante observar que, dentre os principais motivos relatados para a procura desses procedimentos, o desejo de melhoria estética é apenas um pequeno componente da motivação por sua procura, sendo os principais motivos a melhoria do bem-estar físico e psicossocial (10).
Psicólogos da linha comportamental consideram que a baixa autoestima tem origem quando toda ou a maior parte das atitudes da pessoa são criticadas, desencadeando inibição e medo de se expor. O sujeito se considera inferior e despreparado para a competitividade existente no mundo, desenvolvendo sentimentos negativos em relação à sua pessoa (8).
A definição de autoestima é altamente complexa, pois envolve crenças, percepção do “mundo interno e externo”, fortemente influenciada pelo contexto social e cultural em que o indivíduo está inserido. Reflete a condição de estar bem consigo mesmo em relação ao meio social mais amplo (8).
A autoestima expressa uma atitude de aprovação ou desaprovação sobre nós mesmos, e essa autoavaliação inclui o quanto somos valorizados tanto pelo meio social restrito quanto pelo amplo (8, 15).
Uma autoestima alta gera menor preocupação com medos e ambivalências, além de sentimentos de maior competência e autoconfiança, levando a pessoa a ser mais direta e realista para atingir suas metas (8).
O presidente da Fundação Internacional de Dermatologia da Inglaterra, Terence J. Ryan, e o professor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde de Oxford observaram que até mesmo a Organização Mundial da Saúde reconhece que o bem-estar se deve, em parte, à “boa aparência”, e acrescentam que “há muita ansiedade em relação à aparência que leva as pessoas a procurar por uma aparência melhor” (7).
Um estudo encomendado pela Dove (Unilever) em 2004, em colaboração com a medicina de Harvard e a Escola de Economia de Londres, teve como intuito identificar o significado de “beleza” entre as mulheres globalmente, e realizou uma revisão da literatura em 118 países em 22 línguas, além de entrevistar 3.200 mulheres de 10 países (EUA, Canadá, Grã-Bretanha, Itália, França, Portugal, Holanda, Japão, Brasil e Argentina). Segundo os autores, 68% das mulheres julgaram, há 20 anos, que os padrões de beleza estabelecidos socialmente nunca seriam atingidos, contudo declararam esforçar-se para alcançá-los. 48% dessas mulheres apresentaram níveis de baixa autoestima relacionados ao conceito de beleza (18).
Os autores observaram que brasileiras e italianas dão mais valor para a aparência física e facial na definição de beleza do que para fatores como autoconfiança, humor e alegria, dentre os 10 países estudados (18).
Já nesse ano de 2004, 68% das 3.200 mulheres entrevistadas concordaram fortemente que a mídia e a publicidade estabelecem um padrão irreal de beleza que a maioria das mulheres nunca consegue alcançar (18).
50% das brasileiras relataram que consideraram realizar procedimentos estéticos e 7% reportaram já ter realizado algum tipo de cirurgia estética, a maior porcentagem dentre todos os dez países estudados, como mostra o gráfico (18):
Um estudo de 2022, realizado através de questionários respondidos online por 63 pessoas de Belo Horizonte, trouxe alguns dados interessantes sobre o consumo de procedimentos estéticos pelas brasileiras (1):
Mesmo tratando-se de uma faixa etária jovem em sua maioria, 52,5% dos entrevistados já realizaram procedimentos estéticos faciais (1).
No Gráfico 8, 50% (20) dos entrevistados responderam que sim, realizaram procedimentos estéticos invasivos.
52,5% (21) dos entrevistados acreditam que um procedimento estético seria capaz de influenciar muito em sua autoestima (GRÁFICO 9).
Faz-se mister ressaltar o papel das mídias sociais nesse problema, uma vez que ampliam a pressão estética por meio de filtros capazes de corrigir imperfeições físicas, introduzindo um padrão de beleza impossível de ser alcançado (1).
Tal padrão faz com que o indivíduo tenha dificuldade em sua percepção de si mesmo, levando-o muitas vezes a desejar um padrão que não condiz com seu biotipo facial, gerando insatisfação. Isso pode culminar em doenças como anorexia, bulimia, ansiedade e depressão (15).
O indivíduo sempre busca seus semelhantes, que compartilham suas crenças, valores e estilos de vida, elegendo ou não pessoas como modelos de comportamento. A partir dos conceitos assimilados principalmente na adolescência, com os quais se identifica e absorve ou descarta por desacreditar, chega na vida adulta com seus próprios valores. Logo, a adolescência constitui a faixa etária em que a pessoa apresenta alterações físicas, emocionais e cognitivas que irão interferir na construção da sua autoestima (8).
A exposição das aparências idealizadas pelos influenciadores digitais e filtros de redes sociais pode levar ao cultivo dessas aparências como a norma a ser seguida, e a exposição frequente a esses conteúdos se relaciona com a aceitação e normalização dos procedimentos estéticos, desempenhando um papel importante na atitude de jovens em relação a tais procedimentos, visto que os influenciadores são vistos como modelos (13).
Os jovens de hoje em dia passam grande parte de suas vidas em um mundo virtual, onde encontram uma enorme quantidade de conteúdo focado na aparência física (12, 13). À luz do importante papel que as redes sociais, como o Instagram, desempenham nas atitudes desses jovens em relação à indústria da estética, estudos correlacionaram o uso de “selfies” com menor autoestima e diminuição da satisfação com a vida (12).
Chen et al. (2019) levantaram a questão da existência de uma relação entre o tempo de uso de redes sociais e aplicativos de edição de fotos com a autoestima e a busca por cirurgias estéticas. YouTube, Tinder e filtros do Snapchat foram relacionados a uma maior aceitação de procedimentos cirúrgicos, enquanto WhatsApp e Photoshop foram associados a níveis de autoestima significativamente mais baixos. Os achados sugerem que as percepções sobre cirurgia estética podem variar de acordo com as mídias sociais e ferramentas de edição de fotos utilizadas. 252 participantes responderam à pesquisa realizada online, que usou escalas para medir a autoestima (escala Rosenberg) e a aceitação de cirurgia estética. 184 eram mulheres (73%), 100% relataram usar ao menos 1 rede social, e a média de redes usadas foi de 7 e de editores de foto foi de 2. Compararam os dados estatísticos das escalas entre usuários e não usuários de diferentes redes sociais. O estudo sugere que o uso de determinadas mídias sociais e editores de fotos pode estar associado a uma maior aceitação de cirurgias estéticas (12).
Em 2022, outro estudo investigou o uso ativo e passivo das redes sociais em relação às percepções de 470 jovens entre 18 e 25 anos, utilizadores do Instagram, sobre procedimentos cosméticos. Eles relataram baixa intenção de realizar procedimentos: 67% indicaram não ter vontade de realizar procedimento e apenas 9% pensam que a realização dos mesmos é altamente aceitável. Porém, superestimaram a prevalência de procedimentos realizados por outras pessoas, o que fornece evidências para a normalização de sua execução, já que os jovens acreditam que são muito mais comuns do que realmente são. Considerando o uso passivo da rede social, os jovens que seguem influenciadores que se submeteram a procedimentos relataram maiores intenções de realizar tais procedimentos, e os jovens que seguem influenciadores que não realizam procedimentos foram relacionados com menores intenções. A frequência de publicação foi insignificante em relação à intenção de se submeter a tais procedimentos, mas aqueles que usam filtros para edição de fotos relataram com mais frequência maior aceitação e intenção de realizar procedimentos estéticos. Os autores levaram em conta a importância do gênero na pesquisa, visto que procedimentos estéticos são altamente sensíveis ao gênero; estima-se que 90% de todos que procuram procedimentos estéticos se identifiquem como mulheres. Os resultados elucidam que o uso de mídias sociais altamente visuais está relacionado ao aumento da aceitação e normalização de procedimentos estéticos (13).
A Academia Americana de Cirurgia Plástica, em 2017, descobriu que 55% dos cirurgiões relataram atender pacientes solicitando cirurgias para melhorar sua aparência nas “selfies”. Essa crescente popularidade de tirar selfies com filtros de edição levou os cirurgiões a cunhar um novo termo: dismorfia do Snapchat, para se referir ao fenômeno psicológico de pacientes que trazem selfies filtradas para ilustrar as mudanças estéticas desejadas. Embora essas imagens forneçam aos profissionais as expectativas do paciente visualmente definidas, existe muito debate sobre se a edição de fotos contribui para o Transtorno de Dismorfia Corporal ou influencia as percepções do paciente sobre os procedimentos estéticos (12).
Vários estudos examinaram o impacto psicossocial das selfies, relacionando sua postagem regular em redes sociais a uma maior insatisfação corporal e supervalorização da aparência física (12, 13), aumento da ansiedade social e desejo de se submeter a procedimentos estéticos (13).
Os aplicativos de edição de fotos não obtiveram resultados estatísticos relacionando seu uso à busca por procedimentos estéticos, corroborando com o resultado da literatura prévia que relata que a manipulação das imagens não afeta significativamente a insatisfação corporal. Já as redes sociais, pelo fato de comparar e comentar as imagens de outros indivíduos, resultaram em uma associação mais evidente entre seu uso e a busca por estética. Porém, como a pesquisa foi realizada digitalmente, o público participante foi mais jovem e mais experiente em mídias digitais, portanto não pode ser representativa da população geral de pacientes que procuram por cirurgias estéticas. É necessário realizar estudos longitudinais com amostras populacionais extraídas de todas as faixas etárias para melhor representar a população que realmente busca por procedimentos estéticos (12).

Com o objetivo de verificar a relação dos procedimentos estéticos com o grau de satisfação da imagem corporal e autoestima em mulheres, um estudo de 2021 avaliou 90 mulheres com idade entre 18 e 60 anos que foram divididas em 3 grupos: mulheres que não utilizavam recursos estéticos e não praticavam atividade física, mulheres que realizavam procedimentos estéticos e mulheres que apenas praticavam exercícios físicos regularmente. Foram usadas escalas de satisfação e questionários que incluíram desde motivações para a prática de exercícios e busca por procedimentos estéticos, até a influência da mídia na autoestima. Os autores identificaram uma relação significativa e positiva entre autoestima e satisfação com a imagem corporal, e menores médias de autoestima nas mulheres que relataram insatisfação com o próprio corpo (11).
Na fase adulta, a autoestima tende a se tornar estável, relacionando-se de forma positiva com a qualidade de vida percebida e negativamente com a depressão. Pessoas com níveis elevados de autoestima tendem a demonstrar bom humor, equilíbrio emocional e facilidade de relacionamentos. No entanto, quanto menor o grau de autoestima, maior será a associação com sintomas depressivos, percepção de incapacidade, ansiedade e comportamento antissocial (11).
Rodrigues et al. (6) relataram um caso clínico de odontologia estética na reabilitação do paciente em sua forma integral, por meio de procedimentos não invasivos realizados na harmonização orofacial, restabelecendo não só a estética e a função, mas também a autoestima e a aceitação da paciente, uma mulher de 52 anos que teve sua aparência afetada por situações de violência doméstica ao longo da vida. O tratamento incluiu procedimentos minimamente invasivos, como bioestimuladores de colágeno, toxina botulínica, lifting de temporal e preenchimento com ácido hialurônico. Além da melhora estética, houve também um ganho na estabilização do quadro psicológico, atenuando marcas que prejudicavam o desenvolvimento psicossocial da paciente. Concluiu-se que os procedimentos minimamente invasivos foram eficazes, permitindo equilibrar estética, função e bem-estar, e obtendo resultados físicos e psicólogos satisfatórios. Observou-se a amplitude e a repercussão que a atuação do dentista pode apresentar na vida do paciente (6).
A insatisfação com a imagem corporal promove inúmeras consequências negativas, como distúrbios alimentares e distúrbios de imagem, devido à preocupação excessiva de alcançar o ideal físico, podendo colocar em risco a saúde do indivíduo. Dentre eles, o mais comum entre pessoas que realizam procedimentos estéticos invasivos é o Transtorno Dismórfico Corporal (11).
Tal transtorno é caracterizado por uma preocupação excessiva com um defeito imaginado que não é perceptível para outras pessoas (ou são mínimos) (14).
O estudo de Campos (14) buscou elencar as características do Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) para alertar os profissionais sobre a importância de termos conhecimento sobre ele, frente à prevalência entre os pacientes que buscam procedimentos estéticos. O Transtorno Dismórfico Corporal designa a diferença entre aquilo que o indivíduo acredita ser em relação à sua autoimagem e aquilo que ele realmente é. Trauma na infância, bullying, maus-tratos, abuso emocional, físico e/ou sexual e níveis baixos de atenção parental podem fazer parte da história de vida desses pacientes. Casos extremos do transtorno podem elevar a chance de suicídios de 6 a 45 vezes. O psiquiatra é procurado tardiamente, e após o paciente ter feito visitas indevidas a cirurgiões plásticos, dentistas e dermatologistas e ter se submetido a procedimentos desnecessários. Os autores concluíram que encaminhar o paciente com TDC ao psiquiatra aumenta a eficácia do tratamento estético, além de evitar a insatisfação do paciente, diminuindo a ideação suicida, o suicídio consumado e evitando processos judiciais (14).
Há uma vulnerabilidade entre jovens adolescentes e atletas a desenvolverem transtornos relacionados com a imagem corporal. As mudanças ocorridas nessa fase e a grande influência da mídia digital provocam inquietações e questionamentos acerca da própria imagem e sua relação com os padrões de beleza vigentes. Para agir eficazmente no transtorno dismórfico corporal, torna-se necessário uma equipe multidisciplinar. Os dados apresentados entre os artigos mostram que o TDC tem sido subdiagnosticado. Existem questionários abrangendo aspectos relacionados ao transtorno e que podem ser utilizados por profissionais de saúde (14).
Diante disso, é necessário que exista uma compreensão profissional de qual é o motivo para a busca dos procedimentos, pois essa procura pode significar uma ausência de identificação própria de beleza (11). Visto que “beleza” não é uma palavra que as mulheres relacionam consigo mesmas, como foi encontrado em um estudo global que contou com 3.200 participantes, em que apenas 2% escolheram tal palavra, enquanto a imensa maioria se sentiu mais confortável usando as palavras “natural” e “mediana” como adjetivos para descrever sua beleza (18).
Nesse estudo, as brasileiras em sua maioria se descrevem como de beleza mediana. Apenas 6% das brasileiras escolheram “belas” para se descrever (18):
É de extrema importância comparar esses dados com dados de estudos em que as mulheres se enxergam acima da média quanto à inteligência, maternidade e sobre suas capacidades como esposas, funcionárias ou motoristas; daí percebe-se que “média” é um valor excepcionalmente baixo de autoavaliação. Na verdade, o estudo mostra que as mulheres estão menos satisfeitas com sua beleza do que com quase todas as outras dimensões da vida. 75% das mulheres no estudo gostariam de ver mais diversidade nas imagens de beleza (18).
“Bela” não só não é a palavra de escolha para se autodescrever, como também é uma palavra relatada como desconfortável para descrevê-las; esse “desconforto” relatado ilustra o quanto as mulheres se distanciaram do ideal atual de beleza feminina (18).
Apenas 17% das mulheres se disseram satisfeitas com sua beleza facial (18).
Existem evidências científicas demonstrando que procedimentos estéticos impactam de forma positiva na autoestima de mulheres (2, 10). Algo em que todos os teóricos concordam é o fato de que a autoestima é uma experiência íntima, reside em cada ser; por isso, há uma grande dificuldade em afetar positivamente a autoestima das pessoas (2).
Os resultados dos estudos mostram que, apesar de os padrões de beleza terem evoluído ao longo da história, a sociedade ainda valoriza a aparência exterior como um importante instrumento de validação social, e a influência da tecnologia, das redes e da mídia sociais teve um papel crucial na geração de um padrão estético irreal, causando insatisfação e baixa autoestima nas pessoas e afetando sua saúde física e mental (9, 15).
Dentre os procedimentos de harmonização orofacial, os mais conhecidos e procurados são a toxina botulínica, que provoca um relaxamento químico nos músculos, evitando assim as dobras de pele que formam as rugas e linhas de expressão; e o ácido hialurônico para preenchimentos, que devolve o volume facial perdido com a idade.
TOXINA
O uso de toxina botulínica cosmética é mais popular entre mulheres de 35 a 50 anos, mas jovens de ambos os sexos também procuram cada vez mais o procedimento. Uma vez encantados pelo “elixir da juventude”, as pessoas tendem a retornar regularmente para receber suas injeções de Botox (17).
Embora sejam a última moda, as injeções de Botox são apenas uma entre um número crescente de aplicações da ciência à arte da beleza que podem ser administradas em clínicas ambulatoriais. Do laser ao peeling químico, cremes e loções para a pele do dia a dia, o público deposita cada vez mais sua fé na ciência, ou em publicidade, para afastar os sinais de envelhecimento (7).
Um estudo verificou o efeito do uso de toxina estética no estado mental, social e comportamental de 83 pessoas com idade média de 48 anos, das quais 95% eram mulheres, que receberam 64U de toxina tipo A no terço superior da face (glabela, testa e orbicular do olho) e foram reavaliados após 1 mês, quando uma dose complementar de 10-20U foi administrada. Elas responderam questionários antes do tratamento a respeito de seu estado de saúde física e mental, a visão que tinham de si mesmas e de sua aparência, seu estado mental e emocional em relação à sua aparência e sobre as expectativas relacionadas ao tratamento a ser realizado, além de um sobre seu funcionamento social e o grau que sua aparência física o influenciava. Após a intervenção cosmética, as pacientes voltaram a responder questões pelas quais a mudança em seu estado mental pôde ser percebida. Comparando as respostas, foi possível verificar como a aparência externa influenciou seu mundo interior, conforme quadro abaixo (7):

Os resultados mostram que 69% dos participantes responderam positivamente quanto à satisfação do resultado obtido pelo tratamento. A influência no comportamento social dos pacientes de 40-49 anos foi maior do que nos <40 e ≥49, mostrando que as pessoas nessa idade se preocupam mais com sua aparência (7).
Em 2022, um estudo revisou as evidências clínicas e experimentais do uso da toxina botulínica da região da glabela como uma nova abordagem terapêutica no tratamento da depressão. O método demonstrou inúmeras vantagens, com poucos efeitos colaterais e um longo período de duração. Os autores descreveram o estado atual do desenvolvimento da toxina como antidepressivo, dando uma perspectiva sobre seu potencial futuro no tratamento de transtornos mentais (19).
Apesar de já existirem tratamentos efetivos para a depressão com medicamentos e terapia, um terço dos pacientes segue sofrendo com os sintomas após várias tentativas diferentes de tratamento, daí a importância do estudo de novas alternativas terapêuticas, como o uso da toxina botulínica na região da glabela. Os músculos corrugador e prócero receberam de Charles Darwin a alcunha de “músculos da dor” por serem responsáveis pela expressão facial de emoções negativas como raiva, medo e tristeza, que são altamente prevalentes em pessoas depressivas, e uma maior atividade desses músculos nessas pessoas já foi cientificamente observada (19).
De acordo com a hipótese de feedback facial de Darwin e William James, a expressão facial de emoções gera sinais de feedback proprioceptivo que podem manter e reforçar as emoções expressas (5, 19). Essa teoria sugere que a expressão facial fortalece o sentimento interno relacionado a ela (5, 20).
Essa emoção, inicialmente semicognitiva e fria, pode ser transformada em uma experiência emocional sentida calorosamente pela pessoa. Logo, o relaxamento dos músculos glabelares através do uso da toxina botulínica pode interromper esse ciclo de feedback, conferindo um estado emocional mais positivo. Além dos benefícios estéticos envolvidos, o tratamento parece aumentar o bem-estar emocional e melhorar o comportamento social e psicológico, reduzir a irritabilidade e o humor deprimido e ansioso (19).
Também existem evidências de que o tratamento com toxina pode modular a percepção e o processamento de estímulos emocionais, incluindo a ativação da amígdala, que é a estrutura cerebral responsável por processar emoções negativas (19).
Em outras palavras, a terapia com toxina pode ser considerada como um exercício de relaxamento mediado farmacologicamente que anula um comportamento, ou seja, uma expressão facial alterada pode influenciar a ressonância emocional e a interação social, contribuindo assim para a melhora da depressão (7, 19).
O primeiro estudo randomizado duplo-cego realizado mostrou que o tratamento com toxina pode levar a um rápido e forte resultado nos sintomas depressivos em 27 mulheres de meia-idade que sofrem de depressão leve a moderada, parcialmente crônica e resistente ao tratamento com medicação antidepressiva. O grupo tratado mostrou melhora significativa nos sintomas de depressão, enquanto o grupo controle permaneceu inalterado, produzindo uma taxa maior que 50% de redução na escala de Avaliação de Depressão de Hamilton (21).
Um segundo estudo com amostra maior, de 69 mulheres, confirmou o efeito antidepressivo da toxina botulínica. Além das melhorias e taxas de resposta semelhantes às do primeiro estudo, também encontrou uma taxa de remissão significativamente maior no grupo estudado do que no placebo (22).
A Allergan conduziu um estudo com 258 mulheres diagnosticadas com depressão moderada a severa durante 24 semanas, corroborando os resultados encontrados nos outros estudos descritos acima (23).

Logo, vários estudos confirmaram o efeito antidepressivo da toxina botulínica na glabela. Apesar de o número de estudos ainda ser pequeno, existe um alto nível de evidência de sua eficácia como tratamento para depressão em mulheres com depressão leve a moderada. A segurança e a tolerabilidade do tratamento foram excelentes em todos os estudos (19).
A paralisia induzida da musculatura deve ser total, visto que uma atividade residual pode ser suficiente para sustentar o ciclo de feedback proprioceptivo. Portanto, as doses aplicadas podem exceder aquelas utilizadas apenas para tratamentos estéticos (19).
A técnica de injeção e a quantidade de unidades usadas nos estudos foi semelhante, demonstrada em resumo na figura:
Na maioria dos casos, essa dose produz paralisia completa da musculatura glabelar e deve ser adaptada às condições anatômicas individuais.
Em contrapartida, um estudo avaliou a possibilidade de o tratamento com toxina ter efeitos negativos nas emoções incorporadas devido à mobilidade reduzida da musculatura da mímica. Os resultados foram analisados sob 3 hipóteses: o efeito da toxina nos músculos usados para expressar emoções tanto negativas quanto positivas e como isso pode interferir negativa ou positivamente no humor da pessoa; se a paralisia da mímica facial pode prejudicar o reconhecimento de emoções; e se a redução das expressões faciais pode afetar a satisfação sexual, visto o papel importante que possuem durante a fase de excitação e por já ter sido comprovado que ocorrem contrações involuntárias da musculatura da mímica durante o orgasmo. 36 mulheres divididas em 2 grupos participaram do estudo que comparou o grupo de 24 mulheres que fizeram tratamento com toxina (das quais 11 também aplicaram toxina no orbicular dos olhos além da glabela) com o das 12 que realizaram outros tipos de procedimentos estéticos que não afetam a mobilidade facial. Os resultados mostraram uma melhora significativa no humor das mulheres tratadas com toxina apenas na região glabelar, comparado com os outros dois grupos, corroborando com os resultados encontrados nos outros estudos. Porém, ao analisar o grupo que, além de receber a toxina na glabela, paralisou também os “pés de galinha”, os resultados mostraram que essa paralisação do orbicular do olho aumentou a pontuação de depressão e ansiedade quando comparado ao grupo que tratou apenas a região da glabela (20).
A teoria que explica esse resultado de piora no humor após o tratamento dos “pés de galinha” com toxina é exatamente a mesma que explica a melhora no humor após o tratamento da região glabelar: o músculo orbicular do olho tem um papel importante no sorriso verdadeiro, que é visto como mais sincero e caloroso do que o sorriso apenas labial. Logo, seria esperado que reduzir sua mobilidade com toxina traria consequências psicológicas por causa da força do feedback facial que a pessoa tem ao sorrir apenas com os lábios e não com os olhos em conjunto, fazendo com que a pessoa se sinta menos feliz quando sorri. O tamanho do efeito negativo de tratar o orbicular do olho parece ser semelhante ao tamanho do efeito positivo de tratar a região da glabela, logo, pode-se concluir que ao tratar as duas regiões, nenhuma alteração de humor ocorra (7).
Conclui-se que, por prevenir ou minimizar a mímica facial, o tratamento com toxina reduz a precisão de reconhecimento da expressão facial de emoções e, como consequência, as pessoas que usam toxina podem ser menos capazes de interagir de maneira eficaz em ambientes sociais e podem exigir maior interpretação de sinais faciais sutis (7).
O estudo também sugere que a redução da capacidade de fazer expressões faciais associadas ao prazer sexual leva a uma redução na sensação relatada de prazer, visto que as participantes relataram maior dificuldade de chegar ao orgasmo após o tratamento, como mostrado no quadro (7):
A pesquisa contou apenas com medidas de autorrelato para a análise do efeito da toxina na função sexual, portanto, futuros estudos são necessários. Como o orgasmo feminino é relacionado à ligação entre o casal, a comunicação não verbal torna-se importante (7).
A justificativa para uso e a evidência de efeito relaxante muscular da toxina botulínica como tratamento para depressão podem ser explicadas às pacientes e constituem uma clara vantagem sobre o uso meramente estético da mesma, que deve ser aproveitada ao máximo pelos profissionais. Seu uso pode ajudar muitas mulheres a obter melhora substancial dos sintomas da depressão, além de atuar na melhora da autoestima por seus resultados estéticos. Todos os estudos revisados utilizaram o Botox, mas como a ação esperada da toxina como medicamento é a mesma, podemos concluir que o uso de outras marcas comerciais surtirá o mesmo efeito, desde que usadas na diluição de equivalência com o Botox; porém, estudos científicos são necessários para validar essa afirmação (19).
As informações coletadas até agora nos estudos existentes justificam a busca por maiores informações científicas. A Allergan detinha os direitos de desenvolvimento do tratamento para depressão com toxina, mas foi vendida para a Abbvie sem terminar a fase III dos estudos; a iniciativa, liderada por pesquisadores da Healis Therapeutics, fundada em maio de 2022, assumiu a licença exclusiva para desenvolver mais rapidamente o registro da terapia com toxina para tratamento do Transtorno Depressivo Maior (www.healisthera.com).
ÁCIDO HIALURÔNICO
Mauricio de Maio teve a percepção de que os pacientes muitas vezes procuram correção estética de deficiências faciais que raramente são a verdadeira causa de sua insatisfação e, baseado nesse preceito, criou uma abordagem mais holística para o tratamento com preenchedores de ácido hialurônico, focada em avaliar e melhorar os atributos faciais que traduzem mensagens emocionais presentes na face do paciente, e não apenas tratar suas rugas e linhas de expressão. A criação da técnica MD Codes, além de possibilitar ao paciente relatar corretamente o que o incomoda em seu rosto a partir de como se sente, também teve por objetivo aumentar as taxas de sucesso relacionadas à satisfação do mesmo e reduzir a variabilidade nos aspectos técnicos do preenchimento com ácido hialurônico, independentemente da idade, etnia e gênero da pessoa a ser tratada (24).
Os MD Codes (medical codes) representam subunidades anatômicas para injeção de AH, com informações precisas sobre profundidade, ferramenta de aplicação e técnica a ser usada (bolus, alíquota, etc.), além da quantidade mínima necessária para obtenção de resultados visíveis naquela determinada região, sempre focando em minimizar os atributos negativos e realçar os positivos, relacionados na tabela a seguir (24):
São poucos os artigos que levam em consideração atributos emocionais além da história médica e exame físico na avaliação dos pacientes, e a técnica criada por De Maio fornece uma linguagem universal que minimiza a variabilidade técnica e aumenta a satisfação dos pacientes. Seguindo o preceito de tratar primeiro a fundação da face, depois o contorno, para finalmente fazer o refinamento (que geralmente é onde se encontra a queixa do paciente), de maneira progressiva em diferentes sessões, obtêm-se resultados como o mostrado a seguir (24):
Em outra de suas publicações, Mauricio de Maio e seus colaboradores tiveram como principal objetivo avaliar o impacto clínico de sua técnica, MD Codes, sobre os atributos emocionais e sociais percebidos nas faces tratadas tanto pelos próprios pacientes, como a percepção desses atributos por outras pessoas. Uma análise retrospectiva foi realizada por 576 observadores (o responsável pelo tratamento, 12 profissionais experientes em estética, 12 pessoas que trabalham no meio mas não realizam os procedimentos, e 12 pessoas totalmente leigas em estética para cada paciente), de 12 diferentes países (incluindo o Brasil), em fotografias antes e depois de 6 e 9 meses do procedimento de 12 mulheres com idade média de 48,7 anos que realizaram 12 ml de preenchimento com sua técnica para avaliar a aparência de 8 atributos emocionais e 8 sociais. Mais de 90% dos pacientes apontaram as bolsas nos olhos como a área que necessitava de tratamento. Os 3 atributos emocionais observados por todos os avaliadores após o procedimento foram “menos cansado”, “menos flacidez” e “mais jovem”. Todos os pacientes relataram uma mudança visível e positiva nos atributos emocionais, exceto em “menos triste”. Após 9 meses, a maioria dos pacientes relatou parecer “menos cansado” e metade relatou parecer “menos triste”. Os pacientes também relataram melhoria nos atributos sociais, como “parecer mais amigável”, e em seu bem-estar geral. Chegaram à conclusão de que o tratamento com preenchimento facial MD Codes melhora os atributos emocionais, sociais e o bem-estar com resultados naturais (3).
O resultado desse estudo clínico de Mauricio de Maio é importante, pois além do foco nos atributos emocionais, levando em conta não apenas a aparência estática da face, mas compreendendo como ela se expressa, também foi utilizado um protocolo clínico que pode ser reproduzido (3).
Um estudo com 282 participantes, sendo 189 mulheres e 46 homens, com idade entre 35 e 65 anos e perda de volume facial de moderada a severa, avaliou o uso do preenchedor Juvederm Voluma XC. Os pacientes foram randomizados para receber em média 6,68 ml de Juvederm (n=235) ou para serem do grupo controle sem tratamento (n=47). Os autores acompanharam trimestralmente os resultados durante 2 anos, utilizando a Escala Global de Melhoria Estética (GAIS) e as imagens do VECTRA 3D, avaliando a satisfação geral com a aparência facial e a autopercepção de idade. Após 6 meses e 2 anos do tratamento, os pacientes relataram, em média, uma aparência 5 anos mais jovem após 6 meses e 3 anos mais jovem após 2 anos, e grande melhora da aparência facial, conforme mostrado nos gráficos abaixo (25):

Uma revisão de literatura de 31 artigos realizada em 2022 buscou compreender a melhoria na qualidade de vida que pode ser alcançada através dos procedimentos estéticos com preenchedores dérmicos e toxina botulínica na glabela, isoladamente ou em conjunto, através do uso das escalas FACE-Q. Os resultados mostraram que o tratamento combinado obteve maiores mudanças no bem-estar psicológico e na avaliação da idade quando comparado aos isolados (4).
TRATAMENTOS UNIDOS
À medida que a medicina estética evolui e uma maior variedade de ferramentas se torna disponível aos profissionais para abordar as insatisfações dos pacientes em relação à sua aparência, tem havido maior adoção de abordagens holísticas para avaliação e tratamento, que consideram todo o rosto e, ao mesmo tempo, utilizam várias modalidades de tratamento para abordar o que realmente incomoda a pessoa. A investigação psicológica demonstra que as pessoas processam as faces de forma rápida e abrangente, como um todo, e não como uma soma de características individuais (5).
Muitos estudos, como descrevemos anteriormente, obtiveram resultados interessantes em relação à melhoria psicossocial relacionada a eles, mas faz-se necessário avaliarmos também estudos que abordaram o tratamento estético facial como um todo, usando diversas técnicas ao mesmo tempo, como ocorre no dia a dia de nossa prática clínica.
Cohen et al., em 2022, realizaram um estudo multicêntrico, duplo-cego e prospectivo de 4 meses nos EUA com o objetivo de avaliar também os resultados psicológicos e sociais do impacto do tratamento facial estético. 93 mulheres de 35 a 65 anos receberam tratamentos indicados em rótulo (on label) sequenciais, iniciando com preenchedores de AH (Juvederm) no volume máximo de 6 ml, 3 meses depois Botox na região da glabela e/ou pés de galinha e solução de bimatoprosta 0,03% (Latisse) nos cílios uma vez ao dia durante 17 semanas. Usaram escalas FACE-Q para avaliação do bem-estar psicológico e confiança social, e uma escala específica para avaliar sua percepção em relação ao envelhecimento facial, com os resultados mostrados nos gráficos a seguir (5):

FACE-Q Avaliação de Idade: efeito substancial. 75% dos pacientes relataram que aparentam em média 6,3 anos a menos, 17% aparentam a idade real e 6% apenas relataram que aparentavam em média 3 anos mais velhos ao final do estudo (5).
De maneira geral, os resultados demonstram que os pacientes demonstraram benefícios psicológicos e sociais significativos do tratamento, além de melhorias consideráveis na autopercepção de aparência e de idade; experimentaram melhorias sentindo-se mais positivos, confiantes e felizes com sua aparência facial e confortáveis, confiantes e positivos em suas interações sociais. Curiosamente, o fato de que nem todos os pacientes relataram parecer mais jovens após os procedimentos neste estudo pode indicar que eles procuraram parecer melhor, mas não necessariamente mais jovens (5). Fato que deveria ser evidenciado por nós como profissionais, no combate ao etarismo.
Uma avaliação prospectiva de pacientes que se apresentaram pela primeira vez para realizar esse tipo de tratamento com injetáveis faciais (Juvederm, Vycross e Botox, todos produtos da Allergan) teve por objetivo medir esse impacto usando o método validado de escalas FACE-Q. 35 participantes, dos quais 32 eram mulheres de idade média de 45 anos, responderam a 3 escalas antes e 2 semanas após a realização dos procedimentos, sendo elas sobre: Função Psicológica (como a pessoa se sente: positiva, confortável, autoaceitação, etc.), Função Social (nível de autoconfiança e conforto ao conhecer novas pessoas e em situações sociais) e sofrimento psicossocial relacionado à aparência (nível de infelicidade e estresse sobre sua aparência, preocupações sobre se sentir feia, anormal, e evitação social). Foram encontrados resultados de melhoria significantes nas 3 escalas usadas, conforme gráfico a seguir (10):
Uma coisa é certa: todas as civilizações procuraram a fonte da juventude e tentaram reverter os efeitos do envelhecimento. A civilização ocidental moderna deu um passo além ao tornar uma parte inaceitável da condição humana parecer velho. O público acredita mais do que nunca que a ciência sofisticada, ou pelo menos que parece sofisticada, preservará a aparência jovem e, para atingir este objetivo, os consumidores não têm medo de ter algumas das toxinas mais mortais do planeta injetadas nos seus corpos (17).
Há poucos estudos na literatura brasileira sobre a influência dos procedimentos estéticos na autoestima das mulheres. Mais estudos deveriam ser realizados, visto que os brasileiros, em especial as mulheres, são o público que mais realiza procedimentos estéticos no mundo (11).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (20). Logo, compreender como os tratamentos estéticos faciais se traduzem numa melhoria do funcionamento psicológico e social do ser humano é essencial para maximizar essa premissa da OMS (10).
Porém, não se deve assumir que qualquer pessoa irá necessariamente se beneficiar social e psicologicamente dos tratamentos estéticos. Daí a necessidade de o profissional ser o prescritor dos tratamentos mais indicados para cada indivíduo, tendo por objetivo entender seus anseios e motivações e avaliar sua adequação para a intervenção estética desejada (10).
O profissional deve realizar uma avaliação médica e estética minuciosa antes de fazer um diagnóstico correto para determinar a elegibilidade de cada paciente para tratamentos estéticos na face. Também é de suma importância que o profissional e o paciente definam as expectativas relacionadas ao resultado estético pretendido (3).
A prática da harmonização orofacial precisa ser levada mais a sério por todos os profissionais da saúde que não atuam na área da estética e deixar de ser vista meramente como “vaidade” (3), visto a grande influência psicológica gerada nos pacientes.
Quando nossos órgãos começam a se deteriorar por conta da idade ou de hábitos nocivos, é comum a prática médica intervir para tentar reverter ou desacelerar esse processo, portanto não há razões para acreditarmos que com o envelhecimento facial deveríamos agir de maneira diferente (10).
RESULTADOS
Os achados dessa pesquisa demonstram que processos dermatológicos cosméticos, como preenchedores injetáveis e toxina botulínica, realizados pelo profissional de Harmonização Orofacial, aumentam a confiança e melhoram a vida social de mulheres em todas as idades.
Para maximizar a satisfação e retenção do paciente, os prestadores devem considerar uma abordagem de tratamento combinada, para melhorar o bem-estar psicológico do paciente e a percepção de idade e, consequentemente, a qualidade de vida (4).
O cirurgião-dentista tem condições de propiciar o resgate da autoestima abalada, uma vez que oportuniza um espaço de escuta e de valorização da pessoa como um todo (6).
Podemos concluir que, embora a própria beleza e a aparência física não sejam os principais impulsionadores do bem-estar feminino, são importantes requisitos. Como a maioria das mulheres não está totalmente satisfeita com sua beleza, há um desejo de melhoria que reflete a grande procura por procedimentos estéticos (18).
O tratamento estético com procedimentos minimamente invasivos injetáveis de toxina e AH são associados a uma melhoria significante no bem-estar social e psicológico, além de reduzir o sofrimento relacionado à aparência (10).
Benefícios psicossociais que incluem melhoria na autoconfiança, em sintomas de ansiedade e depressão e melhoria na qualidade de vida geral foram relatados em indivíduos submetidos a procedimentos estéticos faciais (5).
Os estudos fornecem dados para defender uma abordagem mais holística e menos fragmentada para o rejuvenescimento facial e fornecem argumento convincente de que essa abordagem vai além de meras melhorias físicas, gerando assim uma maior consciência dos benefícios psicossociais dos tratamentos estéticos que podem levar o segmento da população que até então os tinha rejeitado por considerarem ser apenas vaidade a procurar mais esses tratamentos (5).
CONCLUSÃO
Mulheres querem ser fisicamente atraentes; sua aparência é de extrema importância para que se sintam bem consigo mesmas.
As atitudes, crenças e valores que integram a autoestima da mulher não são estáveis, sofrem alterações durante toda a vida. Por ser muito complexa, a autoestima ainda necessita de melhores ferramentas para ser avaliada em seu nível conceitual, metodológico e estatístico.
Diante dos dados apresentados, é possível observar o potencial e a eficácia do uso da toxina e dos preenchedores de ácido hialurônico na melhora da autoestima, podendo refletir positivamente sobre o bem-estar psicossocial. Porém, as questões que envolvem a autoestima não devem se restringir apenas à harmonização orofacial, necessitando de acompanhamento multidisciplinar, com psicólogos, psiquiatras, educadores físicos e outros, de acordo com as necessidades de cada paciente.
Compreender o impacto psicossocial do tratamento estético permite compreender as razões pelas quais as pessoas procuram tratamentos estéticos.
O papel do profissional de Harmonização Orofacial vai muito além da técnica; conhecer as percepções e expectativas de cada paciente e se preocupar não só com a integridade física, mas também com a mental de quem procura seus serviços é essencial para obter sucesso nos tratamentos estéticos.
Torna-se imperativo que os profissionais dediquem tempo aos novos pacientes, para compreender não apenas o que eles querem mudar, mas por que eles querem essa mudança.
Portanto, é necessário preparo dos profissionais para enfatizar os aspectos éticos e sociais, além dos técnicos, para ir contra o imediatismo solicitado pelo paciente e o exercício da profissão meramente mercantil, desde a faculdade e cursos de pós-graduação, até a prática clínica diária. A seleção ética de pacientes com real indicação para os procedimentos e a recusa por parte do profissional são essenciais.
Deve-se tomar cuidado com pessoas que foram muito influenciadas por tendências estéticas ou celebridades, pois muitas das imagens que as inspiram são fortemente manipuladas e, portanto, representam uma percepção irreal do que pode ser alcançado com o procedimento desejado. É provável que esses pacientes fiquem decepcionados com os resultados obtidos, sendo sensato pensar duas vezes antes de aceitar realizar o procedimento nessas pessoas, além de manter tudo muito bem documentado.
Além disso, é fundamental a produção de mais artigos científicos randomizados, com amostras adequadas, documentando novos conhecimentos a respeito da relação entre autoimagem e transtornos psicológicos.
Como Darwin escreveu: “Se todas as mulheres se tornassem tão bonitas quanto a Vênus de Médici, ficaríamos encantados por um tempo, mas logo desejaríamos variedade”.
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