O PMMA é perigoso?
Entenda melhor este produto polêmico dentro da Harmonização facial e corporal
Entenda melhor este produto polêmico dentro da Harmonização facial e corporal
O polimetilmetacrilato (PMMA) é um polímero biocompatível, permanente e não biodegradável utilizado em diversas aplicações na medicina e odontologia. Comercialmente, o PMMA está disponível na forma de microesferas suspensas em um gel transportador, como colágeno bovino, carboximetilcelulose ou ácido hialurônico. As microesferas possuem diâmetros que variam de 20 a 80 µm, considerados ideais para preenchimentos dérmicos.
Aplicações Médicas
Estética Facial: O PMMA é amplamente utilizado como preenchedor para rejuvenescimento facial, correção de rugas profundas, sulcos, cicatrizes de acne e definição de contornos faciais.
Finalidades Restauradoras: O PMMA é empregado para tratar a lipoatrofia facial, uma condição caracterizada pela perda de gordura na face, comumente observada em pacientes com HIV em tratamento antirretroviral. Injeções de PMMA ajudam a restaurar o volume facial e melhorar o equilíbrio facial nesses pacientes.
Outras Aplicações Médicas: O PMMA também é utilizado em ortopedia como substituto ósseo, em cirurgia maxilofacial para reparos, em oftalmologia como base para lentes intraoculares, em neurocirurgia e reparos craniofaciais, e como implante submucoso esofágico para tratar refluxo gastroesofágico.
Aplicações na Odontologia
Bases de Próteses Dentárias: O PMMA é um material popular para bases de próteses removíveis devido à sua facilidade de manipulação em laboratório, capacidade de polimento e acabamento, tornando-se uma opção econômica, ao mesmo tempo em que oferece estabilidade oral e estética.
Outras aplicações: O PMMA também é utilizado na fabricação de diversos materiais dentários, incluindo dentes artificiais e próteses internas como contorno de mandíbula, mento, calota craniana, etc.
Usos distintos, com efeitos distintos. Entenda então a…
Diferença Primária entre PMMA utilizado como Preenchedor e em Próteses Dentárias e internas
A principal diferença entre o PMMA usado como preenchedor e o PMMA utilizado para próteses reside no tamanho das microesferas de PMMA e na aplicação pretendida.
PMMA como Preenchedor
O PMMA como preenchedor utiliza microesferas menores, geralmente variando de 20 a 80 µm de diâmetro. Essas microesferas são suspensas em um gel transportador, como colágeno bovino, e injetadas na pele para corrigir rugas, sulcos, cicatrizes de acne, lipoatrofia facial etc. Essa aplicação aproveita a biocompatibilidade do PMMA e sua capacidade de estimular a produção de colágeno, resultando em efeitos duradouros, mas não permanentes.
PMMA para Próteses Dentárias e internas
O PMMA para próteses, como as usadas em reconstrução craniofacial ou como substitutos ósseos, envolve implantes maiores, rigidos e compactos e feitos sob medida. Esses implantes são criados em um ambiente não cirúrgico para evitar os efeitos adversos da polimerização do PMMA dentro do corpo. Esse método assegura um alto grau de compatibilidade com o tecido humano e produz excelentes resultados estéticos.
A probabilidade de complicações com o uso em próteses está mais relacionado a técnica de instalação cirúrgica do que com o material propriamente dito, ao contrário do que acontece com o uso como preenchedor cutâneo.
Tamanho das Microesferas e Fagocitose
O tamanho das microesferas de PMMA é crucial para determinar seu comportamento dentro do corpo. As microesferas usadas em preenchedores são maiores que os macrófagos, evitando que sejam engolfadas e promovendo a microencapsulação por fibroblastos. Isso reduz reações a corpos estranhos e migração. Em contraste, gerações anteriores de preenchedores de PMMA com microesferas menores (menos de 20 µm) eram propensas a induzir granulomas de corpo estranho.
Os preenchedores de PMMA são injetados nas camadas profundas da derme usando microcânulas para minimizar complicações como equimoses e injeções intravasculares. A escolha do plano de injeção é crítica, pois aplicações superficiais podem levar a complicações como granulomas e extrusão.
Embora o PMMA seja geralmente biocompatível, pode desencadear uma resposta inflamatória, especialmente quando usado como preenchedor. Essa resposta inflamatória, embora contribua para a estimulação do colágeno, também pode levar a efeitos adversos como edema, eritema, nódulos e granulomas. Escolher um produto de PMMA de alta qualidade, com microesferas lisas e uniformes e um gel transportador adequado, é essencial para minimizar o risco de complicações.
Primeiros Usos em estética
Desafios Iniciais (1940 - 1980)
A jornada do PMMA na medicina começou na década de 1940, sendo inicialmente utilizado como cimento ósseo. Na Alemanha, seu potencial como biostimulador de colágeno foi explorado por duas décadas. Contudo, a forma inicial de PMMA, com microesferas menores que 20 μm, enfrentou significativos desafios devido à alta taxa de formação de granulomas. Essas partículas menores desencadearam reações adversas, pois o corpo as identificava como substâncias estranhas causando nódulos e muitos.
Refinamentos e Reintrodução (1989 - Presente)
Uma "terceira geração" de PMMA, com microesferas modificadas de 30-50 μm de diâmetro, marcou um ponto de virada. Esse ajuste visava resolver os problemas de granuloma associados às versões anteriores. Em 1989, o PMMA ressurgiu como implante cutâneo, especialmente para tratar rugas profundas, sulcos, cicatrizes de acne e contorno facial.
Aprovação Regulamentar e Aplicações Específicas
Um momento crucial ocorreu em 2006, quando o FDA aprovou o PMMA como o primeiro preenchedor permanente para aplicações específicas em tecidos moles. Essas utilizações aprovadas incluem tratamento de dobras nasolabiais, linhas periorbitais, linhas da testa, pálpebras inferiores, cicatrizes de acne, irregularidades no nariz, aumento dos lábios e rejuvenescimento das mãos.
Apesar de sua presença no mercado, as fontes enfatizam a necessidade de mais pesquisas sobre o PMMA. Esse apelo por investigação contínua reflete as complexidades associadas aos efeitos a longo prazo e ao perfil de segurança do PMMA. E é isso que vamos tentar fazer neste artigo.
Classificação da ANVISA
A ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, classifica o PMMA como produto de alto risco (Classe IV) para uso em procedimentos estéticos. Vale entender que TODOS os preenchedores faciais injetáveis (Acido hialurônico, Hidroxiapatita de cálcio, PLLA, etc) são classificados como produtos de alto risco pela ANVISA. É importante destacar que a ANVISA permite especificamente o uso de PMMA no Brasil para dois propósitos principais:○
Correção da lipodistrofia: Esta condição, frequentemente observada em pacientes com HIV em terapia antirretroviral, envolve alterações na distribuição da gordura corporal.○
Correção de volume facial e corporal: Isso inclui o tratamento de irregularidades ou depressões ósseas por meio de bioplastia.
Embora o PMMA ofereça vantagens como acessibilidade e resultados duradouros, sua natureza permanente e potencial para complicações exigem uma abordagem cautelosa, garantindo que seu uso esteja alinhado com as regulamentações da ANVISA e seja realizado exclusivamente por profissionais qualificados.
Diferenças entre o PMMA e Outros Preenchedores "sólidos”como o PLLA, CaHA e PCL
O polimetilmetacrilato (PMMA) é um preenchedor permanente e não biodegradável, ao contrário de outros preenchedores como PLLA (ácido poli-L-láctico), CaHA (hidroxiapatita de cálcio) e PCL (policaprolactona). Isso significa que o PMMA permanecerá nos tecidos indefinidamente, enquanto os outros preenchedores serão eventualmente decompostos e absorvidos pelo corpo.
Características do PMMA
O PMMA é composto por microesferas que não são absorvidas pelo corpo. Estas microesferas estimulam a produção de colágeno do próprio corpo para encapsulá-las, resultando em efeitos duradouros. Devido à sua natureza permanente, as complicações associadas ao PMMA podem ser mais difíceis de tratar. É necessária uma consideração cuidadosa quanto à origem e formulação do produto para minimizar os riscos.
Características dos Preenchedores PLLA, CaHA e PCL
PLLA, CaHA e PCL são materiais biodegradáveis que eventualmente são decompostos pelo corpo. Eles são considerados semi-permanentes, oferecendo resultados duradouros, mas não permanentes. Esses preenchedores são geralmente considerados seguros e eficazes para aumento de tecidos moles.
Qual o volume seguro no uso do PMMA??
Não existe um volume único e seguro de PMMA que possa ser utilizado clinicamente. O volume adequado de PMMA a ser utilizado depende de vários fatores, incluindo a anatomia individual do paciente, a área a ser tratada e o resultado desejado. Contudo, especialistas sugerem um volume máximo de 50 mL de PMMA para aumento da panturrilha. Para aumento glúteo, o volume recomendado em uma única sessão pode variar de 100 mL a 150 mL. Em face, não há consenso em quantidades ideais de uso.
É importante notar que esses volumes são para uma única sessão e os pacientes podem necessitar de múltiplas sessões para alcançar os resultados desejados.
Fatores que Influenciam o Volume
A concentração do PMMA é um fator crucial na determinação do volume apropriado para uma área específica. Concentrações mais altas de PMMA (por exemplo, 30%) são tipicamente usadas em planos mais profundos, enquanto concentrações mais baixas (por exemplo, 10% ou menos) são preferidas para aplicações mais superficiais. A escolha do plano de aplicação também é importante, com planos mais profundos como intramuscular e submuscular sendo geralmente preferidos para segurança e eficácia, especialmente com concentrações mais altas de PMMA.
Importância de uma Abordagem Gradual
Os especialistas enfatizam uma abordagem cautelosa para as injeções de PMMA, recomendando um intervalo mínimo de 45 dias entre as sessões de aplicação. Isso permite um aumento gradual do volume e minimiza o risco de complicações.
As fontes deste artigo enfatizam consistentemente a necessidade de cautela ao usar PMMA, dada a sua natureza permanente. Embora um volume seguro não possa ser declarado de forma definitiva, entender os fatores que influenciam o volume e a importância de uma abordagem gradual e individualizada é crucial para um tratamento seguro e eficaz com PMMA.
Os Problemas associados ao uso de PMMA Injetável
O tratamento com PMMA, embora geralmente considerado seguro, pode estar associado a uma série de complicações. A frequência relatada dessas complicações é surpreendentemente baixa. Um estudo encontrou complicações em menos de 1% dos casos totais relatados de uso de PMMA. No entanto, é importante notar que esses dados são baseados em complicações auto-relatadas por médicos, e a incidência real pode ser maior.
A gravidade das complicações também varia. Enquanto algumas reações são leves e transitórias, como hematomas e edema, outras podem ser mais graves e duradouras. Por exemplo, reações inflamatórias crônicas, às vezes manifestando-se como granulomas, podem ocorrer anos após a injeção, potencialmente desencadeadas por eventos como infecções sistêmicas ou traumas cirúrgicos. Essas complicações podem necessitar de tratamento a longo prazo com corticosteroides ou até mesmo intervenção cirúrgica.
Além disso, a qualidade do produto de PMMA usado é crucial. Os primeiros produtos de PMMA tinham uma incidência maior de complicações devido a fatores como tamanho irregular das microesferas e impurezas na superfície. No entanto, os avanços na tecnologia de PMMA levaram a uma melhora na qualidade do produto e a um menor risco de complicações. Apesar dessas melhorias, é essencial selecionar produtos de PMMA cuidadosamente, priorizando aqueles com registro na ANVISA, alta pureza do veículo e microesferas lisas e uniformes.
A permanência do PMMA no organismo está muitas vezes ligada à formação de granulomas de corpo estranho, mas não só isso:
Necrose tecidual
Esta é uma complicação grave que pode ocorrer devido ao comprometimento do fluxo sanguíneo na área onde o PMMA é injetado. O risco de necrose é maior com o PMMA em comparação com outros preenchedores porque não pode ser facilmente revertido.
Infecções
Embora raras, podem ocorrer infecções após injeções de PMMA, principalmente se não forem seguidas técnicas estéreis adequadas.
Nódulos
Os nódulos são uma das complicações mais comuns associadas aos preenchedores de PMMA. Eles geralmente se apresentam como caroços duros e palpáveis sob a pele. Embora os nódulos em si possam não ser inflamatórios, podem se tornar inflamados devido a reações de hipersensibilidade ao implante ou à formação de biofilmes ao redor das microesferas. Aplicação superficial do produto, aplicação excessiva, má qualidade do material, irregularidades nas microesferas ou impurezas anexadas às partículas do polímero podem levar à formação de nódulos.
Granulomas
Os granulomas são reações inflamatórias crônicas que se manifestam como lesões nodulares palpáveis. A ocorrência de granulomas, embora mais comum com preenchedores de longa duração como o PMMA, pode ocorrer com outros preenchedores, como o ácido hialurônico (HA). Assim como os nódulos, os granulomas são frequentemente atribuídos a fatores como injeções superficiais, uso excessivo do material ou irregularidades e impurezas nas partículas injetadas.
Reações Inflamatórias Crônicas
Essas reações são frequentemente retardadas, aparecendo anos após as injeções iniciais de PMMA. Podem causar sintomas como eritema, induração, sensibilidade e prurido no local da injeção. Embora a causa exata não seja completamente compreendida, acredita-se que reações inflamatórias crônicas possam ser desencadeadas por eventos como infecção sistêmica ou trauma cirúrgico na área tratada.
Conclusão
Embora o polimetilmetacrilato (PMMA) continue sendo amplamente utilizado na medicina e odontologia devido à sua biocompatibilidade e durabilidade, é crucial reconhecer que existem materiais alternativos com menor índice de complicações. Preenchedores como ácido poli-L-láctico (PLLA), hidroxiapatita de cálcio (CaHA) e policaprolactona (PCL) são biodegradáveis e oferecem resultados semipermanentes, reduzindo o risco de complicações a longo prazo. Esses materiais são frequentemente preferidos devido à sua capacidade de serem absorvidos pelo corpo, o que minimiza reações adversas e facilita a reversão em caso de problemas.
Ainda assim, até a data de publicação deste artigo, o PMMA permanece aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para diversas aplicações estéticas e médicas no Brasil. No entanto, devido ao seu potencial de complicações permanentes e desafiadoras de tratar, é fundamental que seu uso seja realizado com extrema cautela e sempre por profissionais qualificados. A seleção cuidadosa do produto, a técnica de injeção adequada e a avaliação individualizada do paciente são elementos essenciais para garantir a segurança e eficácia do tratamento com PMMA.