Perda Óssea Peri-Implantar em Implantes Extra-Curtos, Curtos e Convencionais
Um Estudo Retrospectivo de 3 Anos para verificar se a resposta biológica dos implantes curtos e extra-curtos são similares aos implantes convencionais
A resorção óssea fisiológica inicia imediatamente após a perda dentária, tanto na mandíbula quanto na maxila, devido à dependência da preservação dos processos alveolares na presença dos dentes. A maxila sofre resorção centripetal do vestíbulo para o palatino, enquanto na mandíbula, a resorção é centrífuga do lingual para o vestibular. A extensão da resorção varia conforme o número de dentes perdidos e o tempo decorrido desde a perda dentária.
Tradicionalmente, a restauração da função mastigatória, da fala e da estética do sistema estomatognático tem sido realizada através de próteses fixas ou removíveis parciais. Contudo, tratamentos suportados por implantes vêm se tornando a opção preferencial de reabilitação devido aos avanços na osseointegração, diversidade de designs de implantes e a capacidade de personalizar o tratamento para as necessidades específicas dos pacientes. Isso é especialmente relevante em pacientes parcial ou totalmente edêntulos, e nos casos desafiadores de implantação na região posterior da maxila devido a limitações anatômicas.
Desafios Anatômicos e Soluções Propostas
A inserção de implantes de comprimento padrão nas regiões posteriores da maxila é complicada por limitações anatômicas como volume ósseo insuficiente, qualidade óssea pobre, espaço interarcada limitado, e a proximidade de nervos importantes. Essas condições são agravadas em pacientes que anteriormente utilizavam dentaduras removíveis. Para contornar tais desafios, foram desenvolvidas técnicas como a regeneração óssea guiada, elevação do seio, enxertos em bloco, distração alveolar e até o uso de implantes zigomáticos. Embora eficazes, estas técnicas requerem procedimentos cirúrgicos complexos, prolongam o tratamento, e acarretam maior desconforto e custos ao paciente.
Como alternativa, foram introduzidos os implantes curtos, que não necessitam de técnicas cirúrgicas avançadas para a colocação, reduzem o tempo de tratamento, o desconforto e a morbidade cirúrgica, sem interferir nas estruturas anatômicas adjacentes ao osso maxilar posterior. Estudos demonstraram que os implantes curtos apresentam taxas de complicação significativamente menores e taxas de sucesso comparáveis às de implantes de comprimento convencional.
Objetivos e Hipóteses do Estudo
O estudo visou analisar e comparar a perda óssea marginal associada a implantes dentários extra-curtos (de 4 mm), curtos (de 6 mm) e convencionais (≥8 mm) suportando duas coroas esplintadas, além de examinar a influência da posição do implante (anterior ou posterior) na perda óssea marginal, as diferenças entre a perda óssea interproximal mesial e distal, e as taxas de sobrevivência dos implantes de diferentes comprimentos. As hipóteses nulas foram de que a perda óssea peri-implantar com implantes extra-curtos e curtos seria maior que com implantes de comprimento convencional, que haveria diferenças na perda óssea marginal entre implantes extra-curtos e curtos, que a posição do implante não influenciaria a perda óssea peri-implantar, e que as taxas de sobrevivência dos implantes extra-curtos e curtos seriam semelhantes às de implantes de comprimento convencional.
Materiais e Métodos
Desenho do Estudo
Este ensaio clínico retrospectivo foi conduzido na Faculdade de Medicina e Odontologia da Universidade de Valência, Espanha, seguindo as diretrizes éticas da Declaração de Helsinque e a Declaração CONSORT, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Humana Experimental da Universidade de Valência. Os pacientes foram tratados entre junho e dezembro de 2016, com dados compilados em junho de 2020. Para análise, foram selecionados 3 grupos de mesmo número de amostras e datas semelhantes de colocação dos implantes.
Critérios de Inclusão
Foram incluídos pacientes com mais de 18 anos, em bom estado de saúde, sem patologias sistêmicas, tratados com pares de implantes dentários Straumann® Standard Plus Roxolid® de 4, 6 e 8–12 mm de comprimento, suportando duas coroas esplintadas nas primeiras e segundas molares maxilares, com o antagonista sendo o dente natural, e que não necessitaram de regeneração óssea guiada. Todos os pacientes forneceram consentimento informado.
Procedimento Clínico
O estudo incluiu 24 pacientes tratados consecutivamente com um total de 48 implantes dentais, divididos em grupos conforme o comprimento do implante: Grupo 1 com 16 implantes extra-curtos de 4 mm, Grupo 2 com 16 implantes curtos de 6 mm, e Grupo 3 com 16 implantes convencionais de 8–12 mm. Todos os pacientes foram monitorados por um período de acompanhamento de pelo menos 36 meses. As cirurgias foram realizadas sob anestesia local pelo mesmo clínico, seguindo o protocolo de perfuração recomendado pelo fabricante do implante. Após a colocação dos implantes, os pacientes receberam amoxicilina, ibuprofeno e enxaguante bucal de clorexidina, com recomendação de escovação suave. As suturas foram removidas 8–10 dias após a cirurgia, e a carga protética foi realizada 10–12 semanas após a colocação do implante.
Todas as restaurações foram fabricadas pelo mesmo técnico de laboratório, sendo as coroas esplintadas feitas de cromo-cobalto com cerâmica feldspática, fixadas nos implantes com torque de 30 Ncm, conforme especificações do fabricante.
Procedimento de Medição
A perda óssea marginal ao redor dos implantes foi analisada radiograficamente, utilizando radiografias periapicais digitais e software CAD 3D para avaliação cega. A perda óssea foi medida nas superfícies interproximais mesial e distal de cada par de implantes, calculando as alterações no nível ósseo marginal entre o momento imediatamente após a carga e o final do acompanhamento de 36 meses. Além disso, as taxas de sucesso dos implantes foram avaliadas segundo os critérios de sucesso de Albrektsson.


Resultados
Vinte e quatro pacientes (19 mulheres e 5 homens) participaram deste ensaio clínico. O período médio de acompanhamento foi de 36,4 ± 1,6 meses, com todos os implantes dentários alcançando uma taxa de sobrevivência de 100% durante o período de acompanhamento.

Perda Óssea Marginal
A mediana geral de perda óssea na amostra foi de 0,41 mm. Em relação ao comprimento do implante, os implantes extra-curtos apresentaram uma mediana de perda óssea marginal de 0,43 mm, os implantes curtos de 0,53 mm, e os implantes de comprimento convencional de 0,28 mm. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na perda óssea marginal entre os três grupos de estudo (p = 0,421).
Análise por Área Interproximal
A perda óssea marginal nas superfícies interproximais mesial e distal apresentou medianas de perda óssea de 0,33 mm para implantes extra-curtos, 0,42 mm para implantes curtos, e 0,14 mm para implantes convencionais na área mesial; e de 0,46 mm para implantes extra-curtos, 0,50 mm para implantes curtos, e 0,06 mm para implantes convencionais na área distal.
Análise por Posição do Implante
Quando a perda óssea marginal foi analisada em relação à posição do implante (anterior/posterior), observou-se que, em posições anteriores, as medianas de perda óssea foram de 0,35 mm para implantes extra-curtos, 0,39 mm para implantes curtos, e 0,46 mm para implantes convencionais; enquanto em posições posteriores, foram de 0,55 mm para implantes extra-curtos, 0,60 mm para implantes curtos, e 0,03 mm para implantes convencionais.
Padrão de Perda Óssea
Foi observado um padrão irregular de perda óssea em relação ao comprimento do implante, área interproximal, e posição do implante. Em posições anteriores, as diferenças entre os grupos foram menores do que em posições posteriores, onde os implantes de comprimento convencional tendiam a não sofrer qualquer perda óssea marginal. Diferenças estatísticas significativas foram encontradas entre os grupos de implantes localizados em posições posteriores, sugerindo uma preferência pela colocação de implantes de comprimento convencional nesta região devido ao melhor manejo da perda óssea marginal no aspecto distal (p = 0,030).
Discussão
Nos últimos anos, houve um aumento no uso de implantes curtos, apesar de alguma controvérsia na literatura sobre o comprimento exato que define um "implante curto". A tendência atual é considerar implantes de menos de 7 mm como curtos e aqueles de comprimentos menores como extra-curtos. No presente estudo, implantes de 6 mm foram considerados curtos, de 4 mm extra-curtos e de ≥8 mm como de comprimento convencional, complicando a comparação entre diferentes estudos devido à controvérsia sobre o comprimento dos implantes.
Efeitos da Esplintagem dos Implantes
Alguns autores sugerem que a esplintagem de implantes pode compensar a sobrecarga biológica, melhorando a distribuição das forças mastigatórias e reduzindo o estresse transferido do implante para o osso. Estudos mostraram diferenças estatísticas significativas a favor da esplintagem de implantes curtos, com uma probabilidade significativamente menor de complicações protéticas e afrouxamento do parafuso em comparação com implantes curtos únicos.
Influência do Diâmetro do Implante
O diâmetro do implante também influencia a perda óssea, sendo um fator mais importante do que o comprimento, pois a maioria das forças mastigatórias se concentra na porção cervical do implante, transmitindo mais carga para o osso nesta área.
Comparação com a Literatura Existente
A comparação dos resultados do presente estudo com a literatura existente é desafiadora devido ao design do estudo e ao número limitado de ensaios clínicos com métodos semelhantes. O estudo não encontrou diferenças estatisticamente significativas na perda óssea marginal e nas taxas de sucesso do implante entre grupos de diferentes comprimentos. Isso está alinhado com estudos anteriores que também não observaram diferenças significativas na taxa de sucesso de implantes curtos em comparação com implantes de comprimento convencional.
Hipóteses Testadas
A hipótese de que a perda óssea peri-implantar com implantes extra-curtos e curtos seria maior do que com implantes de comprimento convencional foi rejeitada, pois não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos.
A hipótese de que a posição do implante (anterior/posterior) influenciaria a perda óssea peri-implantar também foi rejeitada, com diferenças significativas encontradas apenas no grupo de implantes de comprimento convencional, sugerindo maior perda óssea em posições posteriores.
A hipótese de que as taxas de sobrevivência de implantes extra-curtos e curtos seriam semelhantes às de implantes de comprimento convencional foi aceita, com uma taxa de sobrevivência de 100% observada em todos os grupos.
O uso de implantes extra-curtos e curtos apoiando duas coroas esplintadas na maxila atrófica posterior obteve os mesmos resultados clínicos que o uso de implantes de comprimento convencional. No entanto, o estudo possui limitações, incluindo seu design retrospectivo e o tamanho pequeno da amostra, destacando a necessidade de futuras pesquisas prospectivas randomizadas com amostras maiores para reforçar essas evidências.
Conclusões
Apesar das limitações deste estudo, pode-se concluir que:
A reabilitação da maxila posterior com duas coroas esplintadas em dois implantes extra-curtos (4 mm), curtos (6 mm) ou de comprimento convencional (>8 mm) apresenta perdas ósseas marginais e taxas de sobrevivência similares após 3 anos de carga funcional.
Implantes colocados em posições posteriores apresentam melhores resultados de perda óssea do que implantes em posições anteriores, independentemente da área interproximal onde a perda óssea é medida.
Implantes de comprimento convencional (≥8 mm) mostram menos perda óssea quando colocados em posições posteriores do que implantes curtos (6 mm) e extra-curtos (4 mm) nessas mesmas posições.
Estudos prospectivos longitudinais de médio e longo prazo são necessários para suportar o uso de implantes curtos e extra-curtos na área posterior da maxila.