Esta apresentação consolida o Trabalho de Conclusão de Curso do Dr. Cicero Almeida de Andrade, apresentado como requisito para a obtenção do título de Especialista em Harmonização Orofacial pelo Instituto Velasco. Aqui, a aula se aprofunda nos fundamentos físicos da tecnologia, desvendando como o controle de parâmetros como temperatura, tempo de aplicação e tipo de manopla determinam a resposta biológica, seja para estimular a produção de colágeno, promover a queima de gordura ou tratar fibroses. O objetivo é transformar um procedimento estético em uma intervenção terapêutica previsível, segura e baseada em evidências científicas.
A radiofrequência (RF) consolidou-se como uma das ferramentas mais versáteis e eficazes na estética moderna e na harmonização orofacial. Indo muito além de um simples aquecimento da pele, esta tecnologia baseia-se em princípios físicos complexos para promover desde a neocolagênese (formação de novo colágeno) até a lipólise (queima de gordura). Compreender a física por trás do equipamento, a importância das temperaturas e os protocolos corretos é fundamental para o sucesso clínico.
O Que é e Como Funciona a Radiofrequência
Ao contrário do que muitos imaginam, a radiofrequência não emite calor diretamente. Ela é a ação de uma corrente elétrica associada a um campo eletromagnético. Este campo comporta-se de maneira semelhante a um sinal de Wi-Fi, permeando o ambiente e o corpo.
O aquecimento, que é o objetivo terapêutico, ocorre através da agitação molecular. A energia da radiofrequência, ao encontrar a impedância (resistência) do tecido, faz com que as moléculas de água e íons se agitem violentamente. É essa fricção entre as moléculas que gera o calor de dentro para fora. Portanto, o calor é uma resposta fisiológica à passagem da energia, e não algo que sai da manopla do aparelho.
Classificação e Tipos de Manoplas
Para dominar a técnica, é essencial conhecer as diferentes manoplas e suas indicações de profundidade:
Manoplas Monopolares: Possuem apenas um polo na ponteira. A energia entra pelo eletrodo e precisa encontrar um caminho de saída, o que exige o uso de uma placa de retorno (placa de aterramento) posicionada nas costas do paciente. Por percorrer um caminho maior através do corpo, a radiofrequência monopolar tende a ser mais profunda, sendo ideal para atingir tecido adiposo e camadas musculares superficiais (SMAS).
Manoplas Bipolares e Multipolares: Possuem os polos positivo e negativo na própria cabeceira. A energia viaja apenas de um polo ao outro, tornando o tratamento mais superficial e focado na derme. Não necessitam de placa de retorno e são excelentes para flacidez de pele e rugas finas.
Proteínas de Choque Térmico
O controle da temperatura é o grande segredo para ditar o resultado do tratamento. O monitoramento deve ser constante, preferencialmente com equipamentos que possuam termômetros acoplados à manopla para maior precisão. Dependendo do grau de calor, ativam-se diferentes proteínas e respostas biológicas:
Relaxamento do Colágeno (Baixas Temperaturas)
Quando o objetivo é tratar fibroses, cicatrizes hipertróficas ou aderências, deve-se trabalhar com temperaturas mais baixas, entre 36°C e 37°C, evitando a hiperemia intensa.
Nesta faixa, ocorre a ativação da proteína HSP46 (Heat Shock Protein 46), que promove o relaxamento das fibras de colágeno que estão tensionadas ou desorganizadas.
Tonificação e Neocolagênese (Altas Temperaturas)
Para tratar flacidez e gordura, é necessário causar uma inflamação controlada. O alvo é atingir temperaturas entre 39°C e 42°C.
Este calor intenso ativa a proteína HSP47, essencial para a síntese de novo colágeno. Ocorre um “dano térmico” que induz o organismo a reparar o tecido, resultando em uma pele mais firme e espessa. Além disso, a alta temperatura é capaz de desintegrar a membrana celular dos adipócitos, liberando triglicerídeos e promovendo a lipólise.
Radiofrequência Fracionada (Microagulhada)
Uma evolução importante é a radiofrequência fracionada ou microagulhada. Esta tecnologia une o campo eletromagnético à indução percutânea por agulhas (geralmente banhadas a ouro).
Diferente da versão convencional, a fracionada perfura o tecido e entrega a energia térmica diretamente na derme ou hipoderme, preservando a epiderme. Além do estímulo de colágeno pela temperatura, as microperfurações facilitam a permeação de ativos (drug delivery). É altamente indicada para cicatrizes de acne (inclusive as profundas, tipo “ice-picker”), estrias, “código de barras” e rejuvenescimento global, promovendo uma cicatrização rápida devido às ilhas de tecido sçao que permanecem entre os pontos de coagulação.
Protocolos e Tempo de Aplicação
Um erro comum é a aplicação rápida ou desordenada. Estudos, incluindo os da Dra. Patrícia Froes, indicam que o tempo ideal de manutenção da temperatura terapêutica (após o aquecimento inicial) é de 2 a 5 minutos por área.
Movimentos: Devem ser lentos, constantes e lineares, acompanhando os vetores de tração muscular. Movimentos circulares aleatórios são menos eficientes para o efeito lifting.
Intervalo entre Sessões:
Flacidez: O ciclo de produção de colágeno leva cerca de 21 a 28 dias. Portanto, sessões mensais são ideais. Fazer semanalmente pode gerar um excesso de colágeno desorganizado (fibrose).
Gordura Localizada: Pode-se realizar com maior frequência (semanal ou quinzenal), pois o objetivo é a lipólise, mas deve-se monitorar para não fibrosar o tecido excessivamente.
Fibroses: Para relaxamento de tecido (pós-cirúrgico), sessões podem ser mais frequentes, pois a temperatura utilizada é baixa e não inflamatória.
Contraindicações e Segurança
Embora segura, a RF possui contraindicações claras. Não deve ser utilizada em portadores de marca-passo, sobre implantes metálicos superficiais (risco de aquecimento excessivo), em áreas com infecções ativas ou preenchimentos definitivos (PMMA).
Um ponto crucial de segurança diz respeito à gestação. A contraindicação aplica-se não apenas à paciente, mas principalmente à operadora gestante. A exposição contínua e diária ao campo eletromagnético pode apresentar riscos teratogênicos. Portanto, profissionais grávidas devem evitar operar o equipamento rotineiramente.
Fatores Adjuvantes: Nutrição e Hidratação
O sucesso da radiofrequência não depende apenas do aparelho. O tecido precisa estar apto a responder ao estímulo:
Hidratação: Como o calor é gerado pela agitação de moléculas de água, um tecido desidratado responde mal e aquece de forma desigual. A ingestão de água e o uso de glicerina durante o procedimento são essenciais.
Glicação e Dieta: O consumo excessivo de açúcar e carboidratos gera células “glicadas”, que possuem menor capacidade de regeneração. Para otimizar resultados, recomenda-se uma dieta pobre em açúcares.
Suplementação: Estudos indicam que a suplementação com colágeno hidrolisado (mínimo 5g) associado à Vitamina C potencializa significativamente a neocolagênese quando combinada ao tratamento térmico.
Em suma, a radiofrequência é uma tecnologia que exige conhecimento de fisiologia e física. Quando bem indicada e executada com os parâmetros corretos de tempo e temperatura, oferece resultados excepcionais na firmeza da pele e contorno facial.










