A busca por terapias complementares que unam eficácia, segurança e inovação tem levado a Harmonização Orofacial a explorar novas fronteiras. Uma dessas fronteiras, repleta de potencial, é a Ozonioterapia, um tratamento que utiliza o gás ozônio (O₃) por suas propriedades terapêuticas e oxidantes. Embora sua aplicação clínica já seja consolidada em diversas áreas da medicina e da odontologia, seu avanço na estética e na harmonização facial representa um campo em plena expansão.
Diante do crescente interesse e da propagação de informações sobre os benefícios do ozônio, torna-se indispensável o conhecimento aprofundado de seus protocolos, indicações e especificidades. O trabalho a seguir, de autoria de Rafael Junqueira Faenza, descreve desde o histórico da ozonioterapia até suas técnicas de aplicação, benefícios e contraindicações, ressaltando a importância de respeitar os procedimentos corretos para garantir a segurança e evitar riscos aos pacientes.
A ozonioterapia é um tratamento médico e odontológico que utiliza o gás ozônio (O₃), na forma de mistura com o oxigênio puro (O₂), com função terapêutica, atuando como oxidante direto ou indireto, prescrito para uma série de doenças e demandas clínicas. De acordo com o documento “Declaração de Madrid sobre Ozonioterapia”, 3ª ed. (ISCO3, 2020), até o ano de 2020 havia cerca de 3.329 artigos científicos, estudos e ensaios clínicos sobre a aplicação do ozônio na base de dados do PubMed, enfocando as possibilidades e indicações como terapia complementar, e não alternativa, não sendo recomendada a suspensão do tratamento alopático ou sua substituição.
Desde a descoberta e nomeação do ozônio pelo médico holandês Martinus van Marum em 1871, a publicação pelo químico alemão Christian Friedrich Schönbein em 1840, e seu uso terapêutico em 1880 pelo Dr. John H. Kellogg, muito se desvendou sobre o ozônio, sua prescrição, contraindicações, formas de aplicação e efeitos adversos, com base em pesquisas sérias e suporte de médicos e profissionais. Tais profissionais se organizaram e fundaram o Comitê Científico Internacional de Ozonioterapia (ISCO3) em 2010, um organismo de pesquisa científica independente, com o objetivo de determinar os méritos científicos da aplicação do ozônio, criar um código de boas práticas e uma recomendação de padronização, a fim de desenvolver o conhecimento fundamentado e evitar os usos indevidos e negligentes. O então Comitê ISCO3 publicou, em 2010, a compilação desses conhecimentos e recomendações no documento intitulado “Declaração de Madrid sobre Terapia Ozônica”. Hoje (ano de 2022), encontra-se disponibilizada a 3ª edição do documento, apoiando e disciplinando o uso terapêutico do ozônio para o benefício de milhares de pacientes.
A terapia com ozônio, nesses anos de pesquisas, não se restringiu apenas à área clínica como tratamento complementar, mas avançou na direção da estética e harmonização facial, ganhando espaço nos protocolos de beleza.
Muitas são as aplicações e técnicas na área estética, objetivando desde a atuação antibiótica e anti-inflamatória nos casos de acne, redução de estrias e cicatrizes, perda de peso, celulite, métodos para crescimento de cabelos e o efeito lipolítico facial, visando a restauração e harmonização do rosto. Se, por um lado, se desenvolveram os métodos e técnicas de uso da ozonioterapia, por outro, as pesquisas clínicas e ensaios descortinaram uma série de efeitos adversos e contraindicações.
O presente trabalho procura descrever o histórico da ozonioterapia, sua ação no segmento de harmonização facial, indicações e contraindicações, com base em alguns desses estudos científicos, de modo a servir de fundamentação teórica para futuros especialistas em harmonização facial.
OBJETIVOS
Os objetivos do presente trabalho são:
Apresentar alguns estudos científicos sobre a ozonioterapia, explanando o histórico do uso de ozônio, os usos da ozonioterapia na harmonização facial, indicações, técnicas de aplicação, contraindicações, reações adversas e protocolos mundialmente difundidos.
METODOLOGIA
Trata-se de um trabalho descritivo, fundamentado em livros, artigos científicos, referências de sites idôneos, PubMed, ISCO3 e materiais de aula de professores do Instituto Velasco, São Paulo.
JUSTIFICATIVA
Muito se propaga sobre os benefícios da ozonioterapia, no entanto, há de se respeitar os procedimentos corretos e protocolos, seja no uso terapêutico ou estético, de modo a evitar negligências e erros profissionais que possam causar riscos e danos aos pacientes, que desta forma desfrutarão dos melhores resultados com mínimo risco.
DESENVOLVIMENTO
Histórico do ozônio e da ozonioterapia
O ozônio é um gás naturalmente formado na atmosfera pelas descargas elétricas de alta potência dos raios e relâmpagos, que fundem as moléculas de oxigênio gás (O₂) ao átomo de oxigênio (O), formando uma molécula de ozônio (O₃). O ozônio é muito instável e logo volta ao estado de oxigênio gás (Figura 1).
De acordo com o ISCO3 (2020), o gás ozônio foi descoberto e nomeado pelo médico holandês Martinus van Marum em 1871, pois havia sentido um cheiro característico do ar ao redor de um equipamento eletrificador, que descreveu como um “odor na matéria elétrica do ar”. O químico alemão Christian Friedrich Schönbein, em 1840, percebeu o mesmo odor durante ensaios e o batizou de “ozon”, que em grego significa “aquilo que cheira”.


Ozônio no organismo humano
O ozônio é considerado uma biomolécula, pois nosso organismo produz uma molécula com as mesmas características químicas e papel no processo fisiológico de ativação dos anticorpos, em casos de inflamação e infecções.
Ozonoterapia na estética e na harmonização facial
Detalhamento da ozonioterapia na estética
A acne é definida por Cerqueira como uma doença crônica e inflamatória que tem várias causas, danificando a pele devido às complicações histológicas e às lesões, chamadas de comedões.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, as olheiras são as áreas perioculares que possuem uma coloração arroxeada ou marrom, podendo ter diversas causas.
O envelhecimento facial é resultante do ciclo natural fisiológico das células da pele e das transformações fisiológicas graduais ao longo da vida.
De acordo com o Dr. Carvalho (s/d), a papada ou queixo duplo é resultante do acúmulo de gordura sob o queixo, causando a distensão das células da pele e a formação de excesso de tecido.
Ozônio na harmonização facial
Antes de iniciar o tratamento com ozônio, a pele deve ser limpa e higienizada, com cuidado para não ferir a pele lesionada.
Uma opção ao tratamento de olheiras e melasmas é a auto-hemoterapia, uma técnica de utilização do sangue do próprio paciente para fins de tratamentos e aplicações cosméticas.
Com o envelhecimento, a circulação sanguínea se torna comprometida e o aporte de oxigênio nas células diminui, causando a redução dos processos de liberação de energia celular.


O queixo duplo ou papada constitui um efeito do acúmulo de gordura na região entre o queixo e o pescoço. A aplicação de injeção de ozônio permite que as membranas celulares sejam rompidas.
Protocolos de aplicação do ozônio
As diretrizes da ISCO3 para o cálculo da concentração e volume de ozônio a ser utilizado dependem das vias de administração. Existem as vias de aplicação local e as sistêmicas.
A gaseificação ou gazação em saco plástico consiste em um dos protocolos destinados à cicatrização de feridas e ao tratamento de acne.
O PRP associado ao ozônio utiliza o plasma enriquecido de plaquetas, obtido a partir do sangue do paciente, sua centrifugação, tratamento com ozônio e reinfusão.
Para o rejuvenescimento, a ISOC3 (2020) apresenta alguns protocolos, a saber: aplicação de microdoses, microagulhamento, injeção de PRP ozonizado, entre outros.
A reestruturação do rosto também pode contar com as técnicas de ozonioterapia para recuperar o contorno, minimizar sinais de alterações e atuar como efeito lipolítico.
Protocolos não recomendados, contraindicações e efeitos adversos
Embora se conheça uma variedade de benefícios da aplicação do ozônio, em função de seu forte poder oxidativo, não se deve esquecer de seus efeitos tóxicos e do risco envolvido no emprego de forma errônea.
DISCUSSÃO
O ozônio vem se mostrando um excelente agente no tratamento de enfermidades diversas e no segmento da beleza e harmonização facial. Muitos métodos e técnicas já existem, com casos clínicos confirmados e embasados em pesquisas de profissionais reconhecidos internacionalmente, como os pertencentes à organização ISCO3. Os efeitos da aplicação da ozonioterapia na harmonização facial também se apresentam como um método confiável, dependendo de alguns fatores que devem ser bem discutidos.
CONCLUSÃO
Diante do observado na revisão bibliográfica e aqui exposto, pode-se concluir que o objetivo do trabalho foi alcançado por meio da metodologia aplicada, trazendo fontes, dados e informações sobre a aplicação da ozonioterapia na saúde, com destaque na harmonização facial. Ademais, fica evidente a necessidade da crescente e ampla pesquisa e divulgação sobre o assunto, a fim de que haja cada vez mais dados, arcabouço científico, métodos, fontes e registros para a formação do profissional da saúde, seja na estética ou não.
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