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O uso de peelings representa um componente fundamental no arsenal de tratamentos para harmonização facial, especialmente para pacientes com mais de 50 anos. Estes procedimentos vão muito além da simples descamação superficial – eles estimulam a renovação celular, melhoram a textura da pele, uniformizam a pigmentação e preparam o tecido para potencializar o efeito de outros tratamentos estéticos. Ao contrário do que muitos pensam, existem peelings para diferentes profundidades e finalidades terapêuticas, desde os mais superficiais com mínimo tempo de recuperação até os profundos com efeitos mais dramáticos.

Peelings como Parte da Sinalização Celular

A partir dos 25-30 anos, a pele começa a desacelerar seu processo natural de renovação, tornando-se cada vez mais lenta à medida que envelhecemos. Esta lentidão gera acúmulo de células mortas, perda de luminosidade e redução gradual na produção de componentes essenciais como colágeno e elastina.

Para “atrasar” este processo, recomenda-se estimular a pele a cada três meses, no mínimo. Quando os pacientes ficam mais de três meses sem qualquer estímulo, os benefícios anteriores começam a se perder, quase como se estivessem "começando do zero" novamente. Os peelings criam um microambiente controlado de renovação, onde as células são estimuladas a acelerar seu metabolismo e produzir novos componentes estruturais da derme, resultando em melhora visível da qualidade cutânea e potencializando outros tratamentos de harmonização facial.

Tipos de Peelings por Profundidade

Peelings Superficiais

  • Ácido Glicólico (30%): Este alfa-hidroxiácido possui propriedades hidratantes e é ideal para iniciantes no tratamento com peelings. Com pH recomendado de 2, converte-se naturalmente em ácido lático no tecido, proporcionando hidratação e renovação celular moderada. É especialmente eficaz para tratar efélides ("sardas") e melhorar a textura geral da pele, sendo uma excelente opção para pacientes com pele seca ou normal que não podem usar salicílico.

  • Ácido Mandélico (até 50%): Diferencial importante para peles morenas (fototipos 4-6), o mandélico possui molécula maior que outros AHAs, o que reduz significativamente o risco de hiperpigmentação pós-inflamatória. Trabalha eficientemente em hiperpigmentações superficiais sem causar irritação excessiva, tornando-o ideal para pacientes com maior melanogênese. É o peeling de escolha quando se busca tratar manchas em peles negras ou muito bronzeadas.

  • Ácido Lático: Combina despigmentação superficial com ótima capacidade hidratante. É um dos poucos ácidos que atrai água para a pele enquanto promove renovação, sendo perfeito para peles maduras e ressecadas que precisam de luminosidade sem agressividade.

  • Ácido Salicílico (30%): Como beta-hidroxiácido, diferencia-se dos demais por não necessitar neutralização. Possui a mais forte ação queratolítica entre os peelings superficiais, sendo insuperável no tratamento de peles oleosas, acneicas e na desobstrução folicular. Pode ser usado como preparador para outros peelings, "abrindo caminho" para maior penetração sem necessidade de aumentar a concentração dos ácidos subsequentes, o que aumenta a segurança dos procedimentos de peeling.

  • Ácido Pirúvico: Frequentemente chamado de "laser dos peelings", este ácido penetra facilmente na derme sem causar danos à epiderme. Sua molécula pequena permite que ultrapasse a barreira epidérmica e estimule diretamente os fibroblastos, promovendo produção de colágeno sem descamação visível. Destaca-se por ser um dos poucos peelings que não segue a regra da descamação, razão pela qual é frequentemente associado a outros ácidos queratolíticos para potencializar seus efeitos.

Peelings Médios

  • ATA (Ácido Tricloroacético): O mais versátil dos peelings, pode ser usado em concentrações de 10% a 50%, permitindo trabalhar desde tratamentos muito superficiais até médios com o mesmo produto. Em concentrações baixas (10-15%), causa mínima descamação, quase imperceptível. Em concentrações médias (20-35%), provoca o característico "frost" (branqueamento) que funciona como termômetro visual da profundidade atingida. O ATA de 35% é frequentemente usado para o "ATA-cross", técnica pontual para cicatrizes de acne onde o ácido é aplicado precisamente dentro das cicatrizes atróficas para estimular preenchimento com a neocolagenes. O ATA tem a particularidade de ser "auto-limitante" - sua capacidade de penetração é determinada pela concentração, não pela quantidade de camadas aplicadas.

Peelings Profundos

  • Os peelings profundos, como o fenol e ATA acima de 50%, representam a categoria de maior potência transformadora, mas também de maiores riscos. Atingindo a derme reticular, são capazes de promover significativa retração tecidual e remodelação profunda, mas exigem experiência considerável do profissional. O risco elevado de cicatrizes, hipopigmentação permanente e complicações sistêmicas (especialmente com fenol) faz com que muitos profissionais prefiram encaminhar estes casos para especialistas. O tempo de recuperação (downtime) é substancialmente maior, podendo chegar a semanas, mas os resultados em casos bem selecionados podem ser comparáveis a procedimentos cirúrgicos em termos de rejuvenescimento.


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O Conceito de "Frost" no ATA

O fenômeno do "frost" (branqueamento) representa um sofisticado sistema visual de avaliação da profundidade atingida durante a aplicação do ATA, funcionando como um "termômetro" de segurança para o profissional. Este efeito ocorre devido à coagulação proteica e necrose celular controlada provocada pelo ácido, manifestando-se em diferentes intensidades:

  • Nível 1: Caracteriza-se por uma aparência rosada intensa, semelhante à pele após exposição solar moderada. Este nível indica penetração superficial, afetando apenas as camadas mais externas da epiderme. O peeling permanece na categoria superficial, com mínimo tempo de recuperação e baixo risco de complicações. Ideal para primeiras sessões e pacientes com fototipos mais altos.

  • Nível 2: Apresenta um aspecto distintamente esbranquiçado, porém com um tom rosado subjacente ainda visível. Este padrão sinaliza que o ácido atingiu camadas mais profundas da epiderme e começou a penetrar na derme papilar superficial. Representa um peeling médio-superficial com maior potencial de renovação e retração tecidual, mas exigindo tempo de recuperação moderado e maior cautela em fototipos acima de 3.

  • Nível 3: Manifesta-se como um branqueamento total e opaco, semelhante à cor de uma parede branca, sem transparência. Este nível indica penetração significativa, atingindo toda a derme papilar e possivelmente alcançando a derme reticular. Representa um peeling médio-profundo com alto potencial de transformação, mas acompanhado de riscos elevados de cicatrizes, hipopigmentação e outras complicações. Requer experiência considerável e deve ser evitado em fototipos acima de 2, exceto em situações muito específicas e após preparo meticuloso da pele.

A capacidade de interpretar corretamente os níveis de frost e agir rapidamente diante de sinais de penetração excessiva é uma habilidade fundamental para a aplicação segura do ATA.

A. Frost Nível , B. Frost Nível II, C. Frost Nível III. Lee, K. C., Wambier, C. G., Soon, S. L., Sterling, J. B., Landau, M., Rullan, P., & Brody, H. J. (2019). Basic chemical peeling: Superficial and medium-depth peels. Journal of the American Academy of Dermatology, 81(2), 313-324.

Peelings de Finalização

Os peelings de finalização representam a etapa crucial de selamento após a aplicação dos ácidos principais, potencializando resultados e direcionando o processo de cicatrização. Cada opção oferece benefícios específicos:

  • Ácido Retinóico (10%): Estimula significativamente a microcirculação periférica, melhorando de forma notável a hidratação, oxigenação e nutrição do tecido. Sua ação se estende por até 8 horas após a aplicação, promovendo renovação celular acelerada e remodelação dérmica. Apresenta-se com coloração amarelada característica na pele e requer permanência mínima de 8-12 horas para efeito completo. Deve ser usado com cautela em pacientes com rosácea ativa, embora aplicações esporádicas sejam geralmente bem toleradas.

  • Vitamina C: Excelente opção para pacientes que necessitam dos benefícios de um peeling sem o inconveniente da descamação visível. Além de potente antioxidante, combate radicais livres, estimula a produção de colágeno e oferece discreta ação clareadora. Ideal para finalização em pacientes socialmente ativos ou que não podem ter tempo de recuperação. A vitamina C forma uma película protetora que potencializa a recuperação cutânea pós-peeling.

  • Ácido Ferúlico: Destaca-se como a escolha de excelência para pacientes com rosácea ou tendência a vermelhidões. Além do efeito antioxidante superior (potencializa a ação da vitamina C em até 8 vezes), possui ação anti-inflamatória e vasoconstritora, reduzindo significativamente o componente vascular da rosácea. Quando associado a microagulhamento superficial e baixas doses de toxina botulínica (5-20 unidades diluídas), proporciona resultados excepcionais no controle da inflamação neurogênica presente na rosácea.

  • Fenol Lite ou Ácido Fênico: Combinação estratégica de retinóico com fenol em baixa concentração, permitindo um tratamento intermediário entre os peelings de finalização convencionais e os peelings profundos. Proporciona retração tecidual significativa sem os riscos do fenol puro, tornando-se alternativa interessante para situações onde se deseja maior transformação com recuperação moderada.

Técnicas de Aplicação

A aplicação de peelings transcende a simples distribuição do produto – constitui-se em método clínico meticuloso que exige precisão cirúrgica e rigorosa sistematização. O profissional metódico obtém resultados superiores e minimiza complicações por meio da divisão estratégica do rosto em unidades estéticas funcionais:

  • Região Frontal: Delimitada entre a linha do cabelo e as sobrancelhas, esta área geralmente apresenta rugas horizontais e requer aplicação em linhas horizontais paralelas para cobertura homogênea.

  • Têmporas: Área delimitada pelo arco zigomático inferiormente e pela borda orbital externa anteriormente, requer atenção especial por apresentar pele mais fina e maior risco de penetração excessiva.

  • Malar: Ampla área central que deve ser tratada metodicamente em padrão de grade (horizontal/vertical) para garantir cobertura uniforme sem sobreposições excessivas.

  • Região Periorbital: Área de alta sensibilidade onde frequentemente se utiliza peelings específicos como o tioglicólico para olheiras vasculares. Exige demarcação precisa e técnica extremamente delicada.

  • Região Nasolabial e Marionete: Zonas de expressão que concentram sulcos profundos e frequentemente necessitam de maior tempo de contato ou concentrações ligeiramente superiores.

  • Região Perioral: Contorno labial que apresenta rugas verticais características ("código de barras") e requer técnica específica com movimentos circulares concêntricos ao redor dos lábios.

  • Mento: Área do queixo que frequentemente apresenta alterações texturais e poros dilatados, beneficiando-se de aplicação em padrão cruzado.

  • Nariz e Asas do Nariz: Geralmente a última região a ser tratada devido à maior oleosidade e resistência aos peelings, permitindo maior tempo de contato sem complicações.

    6 Principles of Facial Aesthetics | Plastic Surgery Key
    MAST, Bruce A. Principles of Facial Aesthetics. In: MAST, Bruce A. Plastic Surgery: A Practical Guide to Operative Care. Nova York: Thieme, 2021. Cap. 6, Part I Science and Principles.

A demarcação prévia com lápis branco dermatológico não é mera formalidade, mas requisito técnico essencial para evitar sobreposições inadvertidas de diferentes peelings, especialmente quando se utiliza produtos específicos para diferentes regiões faciais. O profissional deve posicionar-se diretamente à frente do paciente, mantendo contato visual constante durante todo o procedimento para identificar imediatamente sinais de epidermólise ou penetração excessiva.

Frequência e Combinações Estratégicas

A periodização científica dos tratamentos com peelings permite otimizar resultados e minimizar complicações:

  • Peelings Superficiais Simples: Podem ser realizados em intervalos quinzenais (a cada 15 dias), criando um ciclo acelerado de renovação celular ideal para tratamentos intensivos de manchas superficiais ou preparação para eventos sociais. Esta frequência elevada é possível pela rápida recuperação e mínima inflamação gerada, especialmente com salicílico, pirúvico e glicólico em baixas concentrações.

  • Peelings com Associações Bioestimulantes: Quando associados a peelings de selamento como retinóico, ferúlico ou vitamina C, o intervalo deve ser estendido para 30 dias devido à profunda remodelação tecidual iniciada. A combinação com agregados plaquetários (PRP/PRF) potencializa dramaticamente os resultados, mas exige respeito ao tempo de regeneração dérmica para evitar inflamação excessiva e possível hiperpigmentação.

  • Peelings Médios: Requerem intervalos estrategicamente calculados entre 45-90 dias, com personalização baseada na idade do paciente (metabolismo mais lento em idosos), fototipo (recuperação mais lenta e risco aumentado em fototipos altos) e capacidade individual de recuperação observada clinicamente. Marcadores visuais como persistência de eritema ou descamação residual indicam necessidade de extensão do intervalo.

Considerações Avançadas para Fototipos Específicos

O fototipo cutâneo representa o fator singular mais determinante na segurança dos peelings químicos:

  • Fototipos 1-2: Apresentam resposta previsível e segura à maioria dos peelings, inclusive ATA em concentrações variadas. O baixo conteúdo melânico reduz dramaticamente o risco de hiperpigmentação pós-inflamatória, permitindo abordagens mais agressivas com downtime reduzido. Mesmo com erros técnicos pontuais, raramente desenvolvem sequelas pigmentares permanentes.

  • Fototipo 3: Representa a "zona cinzenta" desafiadora que exige decisões clínicas precisas. Embora aparentemente clara, esta pele apresenta elevada reatividade melânica quando inflamada. O uso de ATA requer preparo meticuloso com despigmentantes (hidroquinona, ácido kójico, arbutin) por pelo menos 15 dias antes do procedimento, além de moduladores da inflamação como corticoides tópicos de baixa potência nos dias que antecedem o peeling.

  • Fototipos 4-6: Exigem abordagem conservadora com preferência absoluta pelo ácido mandélico, mesmo em pacientes sem histórico de hiperpigmentação. O ATA deve ser evitado como regra, ou utilizado apenas em microáreas específicas, após extenso preparo e com técnica "frost-zero" (sem permitir qualquer branqueamento visível). Qualquer procedimento mais profundo deve ser precedido de teste em pequena área não visível para avaliar a resposta individual.

Os peelings representam não apenas tratamentos isolados, mas componentes fundamentais da estratégia global de rejuvenescimento, especialmente em pacientes acima de 50 anos. Quando executados com metodologia científica e integrados a outras modalidades como bioestimuladores e preenchedores, transformam-se em ferramentas insuperáveis para manutenção da vitalidade cutânea e potencialização de resultados estéticos duradouros.

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