0:00
/
0:00
Transcrição

Escaneamento SEM Scan-body [Aula 06]

É possível, mas com ressalvas. É uma alternativa para implantes sem pilares digitais ou mesmo se você não tiver disponível o scan body específico

O escaneamento digital intraoral sem o uso de scan bodies tem se tornado objeto de discussão em alguns grupos de whatsapp que participo. Inclusive com defensores ferrenhos que sequer utilizam os pilares de escanemento por achar que não faz nenhuma diferença.

Embora seja tecnicamente possível realizar o procedimento desta forma, existem importantes considerações sobre precisão e adaptação que precisam ser analisadas, e até mesmo isso demanda passos clínicos a mais para viabilizar o trabalho.

A evolução dos sistemas de escaneamento digital trouxe grandes possibilidades, mas também gera debates sobre a necessidade de componentes específicos no processo. Esta discussão se torna particularmente relevante quando consideramos os custos e a logística envolvidos no uso de scan bodies.

O que é um Scan Body e Por Que é Importante?

O scan body é um componente protético específico desenvolvido para registrar digitalmente a posição tridimensional do implante com alta precisão [1]. Este dispositivo foi projetado especificamente para criar uma referência geométrica que pode ser facilmente reconhecida pelos softwares de planejamento CAD/CAM. Já assistiu nossa aula anterior?

Os scan bodies modernos são fabricados geralmente em PEEK (poliéter-éter-cetona), um material que oferece excelente estabilidade dimensional e propriedades ópticas ideais para o escaneamento digital [2]. Sua geometria específica permite que o software reconheça não apenas a posição, mas também a angulação exata do implante.

A importância do scan body no fluxo digital de trabalho está diretamente relacionada à precisão necessária para a fabricação de próteses implantossuportadas. Estudos demonstram que o uso adequado destes componentes pode resultar em adaptações com discrepâncias menores que 50 micrômetros [3].

Função do Scan Body no Fluxo Digital

O scan body desempenha um papel fundamental como elemento de transferência entre o ambiente clínico e o virtual. Durante o processo de escaneamento, sua geometria padronizada serve como ponto de referência preciso para o software de planejamento, permitindo a correlação exata entre a posição do implante e o modelo virtual.

Em sistemas modernos de CAD/CAM, o scan body não é universal. Tal qual os pilares de transferência importantes na implantodontia analógica, estes funcionam com uma biblioteca digital pré-estabelecida, onde cada modelo corresponde a uma plataforma específica de implante. Esta padronização garante consistência e previsibilidade no processo de planejamento protético.

A precisão obtida através do uso de scan bodies permite que o laboratório produza restaurações com adaptação passiva, fundamental para o sucesso em longo prazo das reabilitações implantossuportadas [4], sobretudo em barras ou próteses mais extensas, em casos de múltiplos implantes.

Em elementos unitários, ainda que tenhamos pequenos desajustes angulares, com ajustes de pontos de contato interproximais e oclusais isto pode ser facilmente reparado.

Como Escanear Sem Scan Body?

O escaneamento direto do componente protético é tecnicamente viável com os scanners intraorais modernos. E pensando de um modo simplista, esta abordagem pode parecer mais simples e econômica, pois elimina a necessidade de componentes adicionais no processo de impressão digital, não é?

No entanto, há algumas centenas de trabalhos de demonstram que esta técnica apresenta limitações significativas em termos de precisão e previsibilidade [5]. A ausência de uma geometria padronizada dificulta o reconhecimento preciso da posição e angulação do implante pelo software.

E se o software não consegue reconhecer, é um passo manual a ser realizado, ou seja, perde-se um pouco da automação que é o grande benefício do fluxo digital. Por isso, esta decisão de escanear sem scan body deve ser considerada, levando em conta fatores como complexidade do caso, requisitos estéticos e funcionais, e aceitação de possíveis limitações no resultado final, demandando sessões clínicas extras para fazer soldas em estruturas metálicas, por exemplo.

Deste modo, entenda que o escaneamento direto do pilar protético representa uma alternativa ao uso de scan bodies que pode ser considerada em situações específicas. Mas vamos ao assunto:

Escaneamento Direto do Pilar

Esta técnica depende fortemente da capacidade do scanner em capturar detalhes precisos da geometria do pilar e da habilidade do operador, sendo fundamental que o pilar apresente áreas planas bem definidas que permitam um alinhamento preciso no software CAD.

Estudos mostram que a precisão desta abordagem pode variar significativamente dependendo do tipo de pilar e da posição do implante [6].

Para otimizar os resultados, os pilares devem ser preferencialmente supragengivais ou ter pelo menos dois terços de sua parte funcional exposta acima da margem gengival. O tecido periimplantar deve estar completamente cicatrizado e o campo operatório deve ser mantido bem seco durante todo o procedimento de escaneamento, pois a presença de fluidos ou sangramento pode comprometer significativamente a qualidade da captação das imagens.

Em casos onde o pilar apresenta características geométricas bem definidas, como faces planas ou arestas nítidas, está facilmente acessível acima da margem gengival e os tecidos periimplantares estão estáveis e saudáveis, o escaneamento direto pode oferecer resultados aceitáveis (veja, o termo é aceitável, não bom muito menos ótimo), especialmente para restaurações unitárias em regiões com baixa demanda estética. Esta técnica deve ser considerada uma alternativa apenas quando todas estas condições ideais estiverem presentes, garantindo assim maior previsibilidade no resultado final.

Impacto na Precisão e Adaptação

A precisão do escaneamento digital é pressuposto quando desejamos o sucesso das reabilitações implantossuportadas. Estudos laboratoriais demonstram que o uso de scan bodies proporciona uma precisão média de 11,9 micrometros, com desvios angulares médios de apenas 0,33 graus [7].

O escaneamento sem scan body pode resultar em desvios significativamente maiores, chegando a apresentar discrepâncias superiores a 100 micrometros em alguns casos [8]. Esta diferença pode ser particularmente problemática em reabilitações com múltiplos implantes, onde pequenos erros podem se amplificar. Imagine uma fixa a ser parafusada sobre 6 implantes. Se cada um deles apresentar este grau de discrepância, teremos um erro de 0,6mm acumulado, isso é um desajuste tremendo em uma prótese implantosuportada, onde a adaptação passiva é chave para evitar complicações biomecânicas e biológicas em longo prazo.

Pesquisas recentes têm fornecido evidências substanciais sobre a importância do uso de scan bodies. Estudos comparativos demonstram que o escaneamento convencional com scan bodies apresenta resultados significativamente mais previsíveis e reprodutíveis [9].

E ainda assim, com marges de erro grandes dependentes da inclinação dos implantes, profundidade transmucosa e design do scanbody.

A análise tridimensional de adaptação protética revela que casos escaneados sem scan body frequentemente apresentam discrepâncias marginais superiores ao limite clinicamente aceitável [10].

Quando Considerar o Escaneamento Sem Scan Body

Existem situações clínicas específicas onde o escaneamento sem scan body pode ser considerado como uma alternativa viável. Casos unitários posteriores com boa acessibilidade e baixa demanda estética podem ser candidatos a esta abordagem [11].

Em situações de emergência, onde o acesso a scan bodies não é imediato, o escaneamento direto do componente protético pode ser utilizado para confecção de provisórios. No entanto, é importante considerar esta solução como temporária.

Mas coloque na sua cabeça: se assim o fizer, há um passo clínico a ser seguido, que é o que mostramos na aula nesta página: há necessidade de um alinhamento das malhas do pilar escaneado com o modelo virtual. Falamos sobre o modelo virtual nesta aula:

O processamento e alinhamento destas imagens no software deve ser realizado com atenção especial aos pontos de referência dos pilares a serem alinhados, deste modo a técnica de escaneamento deve ser impecável para maior precisão final.

O desenvolvimento de novos materiais e designs de componentes protéticos pode também contribuir para melhorar a capacidade de escaneamento direto, potencialmente reduzindo a dependência de scan bodies em alguns casos específicos.

A integração de inteligência artificial nos sistemas de escaneamento pode, no futuro, compensar algumas das limitações atuais do escaneamento sem scan body. No entanto, até o momento, o uso de scan bodies continua sendo o padrão ouro para precisão em implantodontia digital.

Bibliografia:

  1. Mizumoto RM, Yilmaz B. Intraoral scan bodies in implant dentistry: A systematic review. J Prosthet Dent. 2018;120(3):343-52.

  2. Arcuri L, Pozzi A, Lio F, Rompen E, Zechner W, Nardi A. Influence of implant scanbody material, position and operator on the accuracy of digital impression for complete-arch: A randomized in vitro trial. J Prosthodont Res. 2020;64(2):128-36.

  3. Carbajal Mejía JB, Wakabayashi K, Nakamura T, Yatani H. Influence of abutment tooth geometry on the accuracy of conventional and digital methods of obtaining dental impressions. J Prosthet Dent. 2017;118(3):392-9.

  4. Hinz S, Ellmann D, Wegner C, Bömicke W, Bensel T. The Digital Abutment Check: An Improvement of the Fully Digital Workflow. Case Rep Dent. 2020;2020:8831862.

  5. Back S, Kim S, Park J, Pyo SW, Chang JS. Comparative study of axial displacement in digital and conventional implant prosthetic components. Sci Rep. 2024;14:19185.

  6. Petchmedyai P, Thanasrisuebwong P. Optimizing digital implant impressions: Evaluating the significance of scan body image deficiency and alignment under varied scan body exposures. PLoS ONE. 2023;18(9):e0291831.

  7. Lee JH, Park JM, Kim SM, Lee JJ, Kim MJ, Yun BJ, et al. An assessment of template-assisted implant placement in terms of accuracy and related factors. J Adv Prosthodont. 2013;5(4):440-7.

  8. Jemt T, Book K. Prosthesis misfit and marginal bone loss in edentulous implant patients. Int J Oral Maxillofac Implants. 1996;11(5):620-5.

  9. Giménez B, Özcan M, Martínez-Rus F, Pradíes G. Accuracy of a digital impression system based on active wavefront sampling technology for implants considering operator experience, implant angulation, and depth. Clin Implant Dent Relat Res. 2015;17(1):54-64.

  10. Papaspyridakos P, Chen CJ, Gallucci GO, Doukoudakis A, Weber HP, Chronopoulos V. Accuracy of implant impressions for partially and completely edentulous patients: a systematic review. Int J Oral Maxillofac Implants. 2014;29(4):836-45.

  11. Ahlholm P, Sipilä K, Vallittu P, Jakonen M, Kotiranta U. Digital versus conventional impressions in fixed prosthodontics: A review. J Prosthodont. 2018;27(1):35-41.

  12. Mangano F, Gandolfi A, Luongo G, Logozzo S. Intraoral scanners in dentistry: a review of the current literature. BMC Oral Health. 2017;17(1):149.

  13. Zimmermann M, Mehl A, Mörmann WH, Reich S. Intraoral scanning systems - a current overview. Int J Comput Dent. 2015;18(2):101-29.

Downloads:

Influence Of Implant Scanbody Wear On The Accuracy Of Digital Impression For Complete Arch
6.95MB ∙ PDF file
Download
Download
Influence Of Abutment Tooth Geometry On The Accuracy Of Conventional And Digital Methods Of Obtaining Dental Impressions
1.82MB ∙ PDF file
Download
Download
The Digital Abutment Check
4.83MB ∙ PDF file
Download
Download
Optimizing Digital Implant Impressions
1.46MB ∙ PDF file
Download
Download
Comparative Study Of Axial Displacement In Digital And Conventional Implant Prosthetic Components
1.22MB ∙ PDF file
Download
Download

Discussão sobre este vídeo