A escolha dos pilares de escaneamento representa uma decisão estratégica ao adotar um fluxo digital no seu consultório. Embora o mercado ofereça uma ampla variedade de opções, a adoção de um conjunto restrito mas versátil de pilares pode otimizar significativamente tanto os aspectos clínicos quanto operacionais do consultório, promovendo maior eficiência sem comprometer a qualidade do tratamento.
A padronização do sistema traz benefícios significativos em múltiplas esferas. Fazendo novamente um paralelo com a gastronomia, assim como um chef experiente conhece profundamente cada ingrediente de sua cozinha e sabe como combiná-los para criar diferentes pratos, o profissional que trabalha com um conjunto bem selecionado de pilares desenvolve maior expertise em suas aplicações e possibilidades.
É fundamental compreender que uma quantidade limitada de pilares não significa menor capacidade de resolução protética. Os pilares que integram o fluxo digital completo, desde o escaneamento até a entrega final, quando bem selecionados, podem abranger uma extensa variedade de casos clínicos. Esta versatilidade é possível graças aos recursos de personalização digital.
Do ponto de vista financeiro, permite otimizar o investimento inicial em componentes, reduz custos de manutenção e reposição, além de possibilitar uma gestão mais eficiente do estoque. Operacionalmente, simplifica a comunicação com o laboratório, padroniza os processos de trabalho, facilita o treinamento da equipe e permite maior domínio técnico sobre os componentes utilizados. Ou seja: garante melhor controle de qualidade, maior previsibilidade nos resultados e processos mais consistentes e rápidos.
Neste artigo vou colocar como EU fiz a escolha dos pilares seguindo estes princípios, e você poderá personalizá-lo se achar necessário. Vou utilizar a nomenclatura que utilizamos sem me ater a marcas, com foco na aplicabilidade clínica destes pilares.
O fato de não mencionar marcas deve-se sobretudo à adaptabilidade dos componentes modernos e à precisão dos sistemas CAD/CAM disponíveis atualmente. Ou seja, um mesmo componentes é oferecido em marcas diferentes com nomes diferentes, mas o scan-body da marca X se adaptará perfeitamente no pilar protético da marca Y, sem perda de qualidade final.
Existem algumas marcas que oferecem exclusivamente pilares digitais, também. São pilares “genéricos” que podem ser utilizados em diversas marcas de implantes, é também uma boa opção na hora de adotar seu próprio fluxo.
Necessidades protéticas essenciais
É possivel resolver praticamente 100% dos casos utilizando estes pilares que colocarei a seguir. Para ficar mais assertivo, separei por aplicabilidade clínica e coloco imagens para facilitar o entendimento.
É bom lembrar que aqui mostraremos essencialmente pilares para implantes com plataforma cônica (cone-morse) haja visto que hoje praticamente só utilizamos este formato para todos os casos, unitários ou multiplos.
Munhão Universal - Próteses cimentadas unitárias e múltiplas
Pilares com perfil de emergência adaptável (para dentes estreitos a plataforma protética tem 3.3mm, para dentes mais largos a plataforma tem 4.5mm)
Pode ser sólido (para fixas) ou Indexados (para unitários)
Área de cimentação variável, funciona para regiões com dimensão vertical limitada (4mm de cimentação) ou grande espaço interoclusal (6mm de cimentação)
Opções para diferentes alturas gengivais, de 0,8mm a 5,5mm

Um aspecto interessante deste pilar é que existem ainda versões ANGULADAS de 17º e de 30º, mantendo os mesmos formatos da área cimentada, ou seja: ainda que seja utilizado um pilar angulado, o mesmo scan body dos pilares retos podem ser utilizados, reduzindo a necesside de estoque.
Os angulados tem limitações nas alturas gengivais: 1,5mm, 2,5mm e 3,5 mm somente.

Para o pilar universal, precisamos de 4 modelos de pilar de escaneamento, que atendem tanto os pilares retos como os de 17º e 30º:
3.3 x 4,5 mm
3.3 x 6 mm
4.5 x 4 mm
4,5 x 6mm
Pilar FLEX: Próteses Parafusadas unitárias ou multiplas
Tem boa tolerância a pequenos disparalelismos (entre 10 e 15º de convergência ou divergência é ainda possivel ser utilizado)
Opções para diferentes alturas gengivais: 0,8mm a 5,5mm
Parafuso com 2,0mm de diâmetro, que minimiza em muito os riscos de fraturas
Pilar de eleição para próteses com cantilever (tipo Protocolo de Branemark), se o paralelismo permitir
Possui luvas metálicas com ou sem hexágono, para confecção de próteses temporárias parafusadas
Um inconveniente deste pilar é que ele é sólido e não indexado, ou seja, quando utilizado em elementos unitários há chance de desparafusamento. Deve ser evitado para este fim, quando possível.
Além disso necessita chave especifica para inserção e aperto.
Para o pilar FLEX, precisamos de 1 modelo de pilar de escaneamento!
Pilar Miruscone/Multiunit: Próteses Parafusadas multiplas
Penso que é um dos pilares mais antigos dentro da implantodontia, e tem opções para todas as plataformas possiveis.
Tem boa tolerância a pequenos disparalelismos (entre 10 e 15º de convergência ou divergência é ainda possivel ser utilizado)
Oferece as opções para correção de grandes inclinações, de 17º a 30º
Opções para diferentes alturas gengivais: 0,8mm a 5,5mm
Parafuso com 1,4mm de diâmetro que é interessante para a estética final porém é fragil se houver uma mecânica desfavorável.
Só é possivel para prótese multiplas e preferencialmente com cantilever pequeno

Para o pilar Miruscone, precisamos de 1 modelo de pilar de escaneamento, independente da inclinação utilizada no pilar!
Veja que com esta simplificação, precisamos ter somente 6 tipos de pilares de escaneamento. Ainda podemos pensar em um 6º tipo, que vai aumentar a versatilidade sem alterar o estoque necessário:
Scan-Body HE: o Pretinho básico da Implantodontia
A plataforma Hexágono Externo (HE) 4.1 representa um marco na história da implantodontia osseointegrada e na tentativa de padronização de formatos e medidas. Sua origem remonta aos estudos iniciais de Brånemark, tornando-se um dos padrões mais difundidos e replicados mundialmente. Esta ampla adoção faz com que o scan body para implantes HE 4.1 seja uma das escolhas mais versáteis no fluxo digital.
Padrão amplamente conhecido e reproduzido por diversos fabricantes
Extensa disponibilidade de componentes protéticos
Compatibilidade com múltiplos sistemas de implantes
Facilidade de encontrar peças de reposição
A prótese pode ser planejada para assentamento direto sobre o implante, uma opção que simplifica o processo e reduz custos em casos onde o posicionamento é favorável.
Quando necessário, podem ser utilizados links intermediários que ampliam significativamente as possibilidades de personalização, permitindo ajustes precisos no perfil de emergência, mas ainda há alguns poréns:
Altura da plataforma pode comprometer resultados estéticos em casos anteriores, mas que podem ser relativamente compensadas ao utilizar pilares em zircônia
Menor estabilidade mecânica comparada a conexões internas como o cone-morse
Possibilidade de afrouxamento de parafuso em casos específicos

Informação ao Laboratório é essencial
A comunicação com o laboratório merece atenção especial e cuidadoso planejamento. Independentemente da marca escolhida, o laboratório precisa ter capacidade de produzir a prótese com o pilar específico, o que demanda bibliotecas digitais completas e atualizadas. Cabe ao profissional fornecer todas as informações necessárias para que o laboratório possa selecionar adequadamente a interface a ser utilizada. Isso inclui especificações precisas sobre o tipo de pilar utilizado, particularidades da interface protética e quaisquer requisitos especiais do caso.
E justsamente para que a comunicação fique mais assertiva, esta escolha de um conjunto limitado de pilares digitais, ainda assim muito versátil para a vasta maioria dos casos, permite atender todas as necessidades protéticas essenciais sem comprometer a qualidade ou as possibilidades restauradoras.
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