O melasma, mais do que uma condição cutânea, pode ter um efeito significativo na autoestima de quem tem.
Ainda mais se considerarmos que esta hiperpigmentação frequentemente se manifesta nas áreas mais visíveis do nosso rosto, como a testa, bochechas e lábio superior, tornando-se difícil de ignorar. As manchas podem parecer um lembrete constante de sua presença, levando a uma sensação de desconforto ao se socializar, tirar fotos ou mesmo ao olhar no espelho.
A busca por soluções e tratamentos para o melasma também é emocionalmente desgastante. Ainda que não tenha “cura” podendo estar mais ou menos ativo conforme situações desencadeantes como calor, luz, cuidados pessoais, não podemos deixar de entender que embora tratamentos possam oferecer melhorias, as manchas são persistentes e demandam cuidados constantes.
E neste aspecto é que a nossa aluna, hoje Especialista em Harmonização Orofacial Dra. Viviane Assis Palhano Mora fez um artigo sobre o uso dos agregados plaquetários, em especial o Plasma rico em Plaquetas, no controle do melasma! Boa leitura!
INTRODUÇÃO
O melasma pode ser definido como uma alteração cutânea causada pela hiperpigmentação através do surgimento de manchas com diversas tonalidades ou pontos escurecidos, que podem vir a apresentar várias formas e medidas, podendo atingir ambos os sexos, sendo mais comum a sua aparição em mulheres em idade fértil. Normalmente, o melasma ocorre na face, mas pode vir a surgir em outras partes do corpo, tais como braços, tórax e pernas, dependendo também do nível de exposição à luz solar e ao calor (MASCENA, 2016).
A pele é denominada como o maior órgão do corpo humano, tendo como principal função o intermédio da relação entre o meio interior e exterior, proporcionando a proteção e o bom funcionamento do organismo (KALAFA et al., 2017). É formada por três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme (tecido subcutâneo). Na camada basal, camada mais profunda da epiderme (na junção com a derme), é o local onde se encontram os melanócitos, que por sua vez são responsáveis pela produção da melanina, que, se produzida em excesso, ocasiona o melasma (NASCIMENTO et al., 2019).
O mecanismo de formação, assim como a patogênese relacionada ao melasma, ainda não foi completamente elucidado. O que se sabe até o momento é que a exposição crônica aos raios ultravioleta (UV), a estimulação hormonal feminina e a predisposição genética são alguns dos fatores que podem ser associados ao desenvolvimento do melasma. Como alguns desses fatores não são totalmente previsíveis, torna-se complexa a prevenção de tal enfermidade, salvo a utilização de protetor solar e a não exposição à luz contínua e fontes de calor (RAJANALA et al., 2019).
O tratamento do melasma pode ser realizado de diversas maneiras, desde abordagens medicamentosas até procedimentos estéticos mais invasivos, que incluem microagulhamento associado a agentes químicos e também a utilização de concentrados plaquetários. O Plasma Rico em Plaquetas (PRP) é considerado como uma das técnicas mais antigas ainda utilizadas na medicina moderna regenerativa, constituído por glicoproteínas e fatores de crescimento, podendo vir a estimular a proliferação celular (PINTO et al., 2017).
A utilização do PRP foi iniciada por volta da década de 70, na área da hematologia, com a finalidade de descrever o plasma com maior contagem plaquetária. O PRP representa a fração suprafisiológica de fatores de crescimento sanguíneos oriundos dos grânulos alfa, que são liberados após a ativação plaquetária ocasionada pelo processamento laboratorial do sangue venoso (GIORDANO et al., 2017).
O PRP representa uma nova perspectiva de tratamento que pode vir a contribuir para a regeneração de órgãos e tecidos através da modulação da resposta inflamatória, revascularização e regeneração por influência das células do tecido conjuntivo presentes no plasma (RODRIGUES; ANNICCHINO-BIZZACCHI, 2017). É um material biológico rico em glicoproteínas e fatores de crescimento, de fácil preparo e baixo custo, também utilizado em cirurgia maxilofacial, possuindo características anti-inflamatórias, podendo vir a estimular a proliferação celular, sendo utilizado também na dermatologia com o intuito de regeneração tecidual, cicatrização de feridas, melhora de cicatrizes, rejuvenescimento dérmico e alopecia (CHELLINI et al., 2018).
Diante disso, este estudo tem por finalidade, através de uma Revisão Bibliográfica, demonstrar a eficácia da utilização do PRP no tratamento de pacientes acometidos pelo melasma, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida para os mesmos.
OBJETIVOS
Explanar sobre a utilização do PRP no tratamento de pacientes acometidos pelo melasma, a fim de proporcionar uma nova abordagem estética de alívio dos sintomas e clareamento da pigmentação das manchas.
METODOLOGIA
A escolha de um modelo de trabalho acadêmico envolve vários fatores, dentre eles alguns podem ser citados, tais como: tempo hábil para execução (prazo estipulado pela instituição); tema a ser abordado; bibliografia disponível; objetivos propostos e delineamento experimental. O projeto de pesquisa, elaborado anteriormente, define qual o tipo de modalidade que mais se enquadra ao tema proposto.
Para este trabalho, de acordo com as normas da instituição, foi escolhida uma Revisão de Literatura, a ser elaborada aos moldes de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Este TCC foi elaborado e escrito selecionando estudos realizados, preferencialmente, nos idiomas espanhol, inglês e português, referentes ao tema.
Como base de dados foram utilizados: o Google Acadêmico, o Pubmed e o Scielo, empregando operadores booleanos específicos para cada plataforma. Durante a seleção de trabalhos, os critérios de inclusão consideraram o idioma (espanhol, inglês e português), o período de elaboração e as evidências concretas acerca do tema proposto, já os de exclusão levaram em consideração o ano de publicação (excluindo as mais antigas) e a relevância acadêmica dos trabalhos. Após a escolha de material bibliográfico viável, iniciou-se um processo de leitura e análise minuciosas dos dados encontrados para que a redação fosse coesa, precisa e de fácil entendimento.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O melasma pode ser conceituado como uma hipermelanose adquirida, caracterizada pela presença de máculas assimétricas, de coloração marrom, irregulares e reticuladas, normalmente em áreas da pele que são expostas de maneira contínua à radiação solar, principalmente a face. Algumas mulheres possuem uma maior predisposição ao desenvolvimento do melasma, como as asiáticas com idades entre os trinta e quarenta anos (SARKAR et al., 2009). É caracterizado também como uma hiperpigmentação localizada, sem que necessariamente ocorra o aumento de melanócitos, apesar da hipertrofia, aumento de dendritos e organelas citoplasmáticas dos mesmos (LEE et al., 2017).
O melasma pode surgir como máculas de coloração acastanhada, de contornos irregulares e limites bem estabelecidos nas áreas que possuem uma maior exposição à radiação solar, como a face, pescoço, braços e região do esterno, onde sua distribuição clínica, quando na região da face, pode ser classificada como centro-facial e periférica. A área centro-facial compreende a glabela, testa, nariz, região zigomática, mento e lábio superior, já a periférica engloba a área temporal, pré-auriculares e ramos mandibulares (LEE et al., 2017).
Esta condição dérmica pode ser acarretada por diversas causas; dentre as principais, pode ser citado o aumento da produção de melanina ocasionado pela resposta da pele à exposição solar, que promove uma cascata de reações químicas que culminam numa maior produção de hormônios que acarretam o estímulo dos melanócitos, que por consequência, produzem uma maior quantidade de melanina, alterando a pigmentação da pele em determinados locais (PASSERON; PICARDO, 2018).
A fisiopatologia associada ao melasma se apresenta bastante complexa e não envolve apenas a elevação da produção de melanina pelos melanócitos. Alguns novos estudos afirmam que há uma interação entre os queratinócitos, mastócitos, anormalidades na regulação gênica, assim como uma elevação na vascularização e ruptura da membrana basal que podem vir a ocasionar o surgimento do melasma. É de fundamental importância que os profissionais envolvidos no tratamento desta condição detenham o conhecimento necessário para poder escolher a melhor abordagem clínica, proporcionando melhores resultados ao paciente (KWON et al., 2016).
Há diversos mecanismos que podem vir a explicar o aumento da deposição de melanina. Um dos mais aceitos é que a radiação UV acarreta uma regulação positiva da estimulação dos melanócitos receptores hormonais (MSH), também denominados como receptores de melanocortina-1 (MC1-R), nos melanócitos, ocasionando uma maior ligação hormonal e, consequentemente, uma maior produção de melanina (BOLOGNIA et al., 1989).
O melasma é uma anormalidade dérmica relativamente comum que atinge, em sua grande maioria, mulheres, sendo de maior prevalência em pessoas com idade média de 30 anos, de raça latina ou asiática, que normalmente são expostas de maneira mais efetiva à luz solar. A prevalência dessa anormalidade em gestantes gira em torno de 19,2%, impactando de maneira significativa a qualidade de vida e a autoestima das mesmas (HANDEL et al., 2014).
A produção de estrogênio de maneira irregular ou exacerbada também demonstrou um importante papel no desenvolvimento do melasma, explicando a alta incidência do mesmo em mulheres após a menopausa, usuárias de anticoncepcionais e gestantes. A união do estrogênio e receptores presentes nos melanócitos e queratinócitos podem ativar vias tirosinase e MITF, induzindo a produção de melanina. A descoberta da participação do estrogênio nesta patologia representa um avanço no que diz respeito à abordagem terapêutica que pode vir a ser utilizada no combate ao melasma (KWON et al., 2014).
A complexa patologia e os diversos fatores que podem acarretar o melasma podem vir a dificultar a escolha da melhor abordagem terapêutica de combate ao mesmo. Diversas alternativas apresentam viabilidade a depender dos fatores que ocasionam o melasma, que podem vir a ser investigados através de uma avaliação clínica minuciosa do paciente. A utilização de PRP pode ser apresentada como uma alternativa viável de tratamento, à medida que pode vir a estimular a renovação dérmica, além de restaurar a funcionalidade normal dos melanócitos (SARKAR et al., 2009).
A dermatologia e a cirurgia plástica passaram a utilizar os agregados plaquetários por seu potencial efeito coadjuvante nas cirurgias plásticas realizadas na face e seus efeitos estéticos benéficos e rejuvenescedores à pele. A terapia periodontal, assim como a cirurgia maxilofacial, além do tratamento de cicatrizes da acne, enxerto de gordura, cicatrização de lesões e crescimento capilar são apenas alguns dos procedimentos que passaram a ser realizados com o auxílio do PRP (SCHIAVONE et al., 2012).
Um estudo realizado por Lingyun Zhao e colaboradores (2021) avaliou a eficácia e segurança da aplicação do PRP no tratamento de pacientes portadores de melasma, com ou sem terapia coadjuvante, onde 395 pacientes foram divididos em três grupos de acordo com a quantidade de melasma, área e gravidade, sendo tratados entre 4 e 12 semanas. Foi utilizado o PRP aplicado de três maneiras distintas: através de microinjeção, microagulhamento e injeção intradérmica, onde o microagulhamento e a injeção intradérmica obtiveram melhores resultados.
Outra pesquisa, realizada em 2020 por Sarkar e colaboradores, utilizou PRP associado à técnica de microagulhamento e PRP isolado durante 3 meses, onde foi possível observar uma redução de cerca de 42% do grupo que recebeu o PRP através da técnica de microagulhamento, em relação aos pacientes que receberam o PRP através de técnicas tradicionais, que obtiveram uma redução de cerca de 30% do índice de melasma observado inicialmente.
CONCLUSÃO
O melasma, por ainda não possuir uma clara patogênese, acarreta diversas consequências para os pacientes acometidos, pois sem causas completamente definidas pela literatura, não há como escolher a melhor abordagem terapêutica. Diversas técnicas podem ser abordadas visando o clareamento das manchas já existentes e a prevenção de outras que podem vir a surgir. O PRP, nesse sentido, atua como uma abordagem barata que acarreta baixos riscos ao paciente, além de bons resultados se utilizado de maneira concomitante a outras técnicas de aplicação, não só com injeções intradérmicas.
REFERÊNCIAS
BOLOGNIA, J. et al. UVB-induced melanogenesis may be mediated through the MSH-receptor system. The Journal of Investigative Dermatology, v. 92, n. 5, p. 651-656, mai. 1989.
CHELLINI, F. et al. Prevents in vitro transforming growth factor-β1-induced fibroblast to myofibroblast transition: involvement of vascular endothelial growth factor (VEGF)-A/VEGF receptor-1-mediated signaling. Study in vitro. Cells, v. 7, n. 9, p. 142-165, 2018.
GIORDANO, S. et al. Platelet-rich plasma for androgenetic alopecia: Does it work? Evidence for meta-analisis. Journal of Cosmetic Dermatology, v. 16, n. 3, p. 374-381, 2017.
HANDEL, A. C. et al. Melasma: a clinical and epidemiological review. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 89, n. 5, p. 771-782, 2014.
KALAFA, E. A. et al. Skin anatomy and physiology. In: Electrospun materials for tissue enginnering and biomedical applications: Research, Design and Commercialization. [S.l.: s.n.], p. 179, 2017.
KWON, S. H. et al. Clues to the pathogenesis of melasma from its histologic findings. Journal of Pigmentary Disorders, v. 1, n. 5, p. 1-10, 2014.
KWON, S. H. et al. Heterogeneous pathology of melasma and its clinical implications. International Journal of Molecular Sciences, v. 17, n. 6, p. 1-9, mai. 2016.
LEE, B. W. et al. Defective barrier function in melasma skin. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology: JEADV, v. 26, n. 12, p. 1533-1537, dez. 2012.
LINGYUN ZHAO, et al. Eficácia e segurança do plasma rico em plaquetas no melasma: uma revisão sistemática e meta-análise. Dermatologia e Terapia, 2021.
MASCENA, T. C. F. Melasmas e suas principais formas de tratamento. Monografia (Especialização em Biomedicina Estética) – Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa e Centro de Capacitação Educacional, Recife, 2016.
NASCIMENTO, D. B. et al. Etiologia e tratamento medicamentoso de melasmas durante a gestação. Revista de Iniciação Científica e Extensão, v. 2, n. 3, p. 176-180, 2019.
PASSERON, T.; PICARDO, M. Melasma, a photoaging disorder. Pigment cell & melanoma research, v. 31, n. 4, p. 461-465, 2018.
PINTO, N. R. et al. Leucocyte-and platelet-rich fibrin L-PRF as a regenerative medicine strategy for the treatment of refractory leg ulcer: a prospective cohort study. Platelets, v. 29, n. 5, p. 468-475, 2017.
RAJANALA, S. et al. Melasma pathogenesis: a review of the latest research, pathological findings, and investigacional therapies. Dermatology Online Journal, v. 25, n. 10, p. 35-47, out. 2019.
RODRIGUES, B. L.; ANNICCHINO-BIZZACCHI, J. M. Número de plaquetas e níveis de fatores de crescimento no plasma rico em plaquetas (PRP) fresco e liofilizado e sua correlação com parâmetros de crescimento e efeito clínico em alopecia androgenética. Dissertação (Mestrado) – UNESP, Campinas, 2017.
SARKAR, R. et al. Melasma in men: a clinical, aetiological and histological study. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, v. 24, n. 7, p. 768-772, dez. 2009.
SARKAR, R. et al. Future therapies in melasma: what lies ahead? Indian Journal of Dermatology, Venearology and Leprology, v. 86, n. 1, p. 8-17, 2020.
SCHIAVONE, G. et al. Injectable platelet-. leukocyte-, and fibrin-rich plasma (iL-PRF) in the management of androgenetic alopecia. Observational Study. Dermatologic Surgery, v. 44, n. 9, p. 1183-1190, 2018.
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